quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Tempos magos e uma singela homenagem a certo colombiano. Crônica particular sobre uma geração flexível em Vitória de Santo Antão Certa vez me deparei com um texto de alguém fazendo reflexões sobre a idade de 50 anos. A princípio não gostei, não por estar mal escrito, mas por o texto retratar certa depressão do autor. Prometi que se escrevesse algo aos 50 anos que pensasse em balanços e meditações, em nada poderia transparecer algum sentimento esmorecido. Certa vez me deparei com um texto de alguém fazendo reflexões sobre a idade de 50 anos. A princípio não gostei, não por estar mal escrito, mas por o texto retratar certa depressão do autor. Prometi que se escrevesse algo aos 50 anos que pensasse em balanços e meditações, em nada poderia transparecer algum sentimento esmorecido. A motivação veio quando participei da incrível comemoração de minha bela amiga Sandra Wanderley. Ela, num gesto de generosidade, boa vontade e alegria, quis compartilhar sua nova idade com os amigos que foram os seus mais chegados durante a vida até aqui. Principalmente aqueles de sua mais tenra idade. Por isto acabou oferecendo um presente a todos, nos proporcionado uma noite de contentamento e memoráveis reencontros. Com apoio de sua inseparável amiga Maria Augusta (Maninha), prepararam tudo para que nos situássemos na década de 70, principalmente com uma trilha sonora turbinada de sucessos que iam dos The Mamas and the Papas aos Beatles, passando pelos inusitados Monkeys (saudades do seriado que era transmitido às tardes na TV), Bee Gees e etc. Os The Fevers, a Tropicália, a Jovem Guarda e a consequente MPB produzida na época, eram alguns dos conjuntos e/ou movimentos que davam o tom nacional à festa (nada como o The Fevers para me transportar a Vitória de Santo Antão nos anos 70). Tudo isto foi-nos ofertado em dois CDs com as trilhas nacional e internacional para que babássemos e nos lembrássemos do acontecimento por muito tempo. Reencontros com amigos e amigas me fizeram concluir: com o tempo os amigos ficaram mais interessantes com o amadurecimento e a troca de experiências de vida. Quanto às mulheres, sem querer ser o galanteador que nunca fui estas ficaram mais interessantes tanto pelas próprias razões anteriores, quanto pela beleza de cada uma, que com o passar do tempo a maturidade as fez brilhar ainda mais (meninas, ruguinhas não contam, nem são importantes. As que teimam em aparecer não devem ser levadas tão a sério). Acho que o fundamental desta nossa história é a possibilidade da felicidade. Não que ela seja obrigatória, mas se a conseguirmos, com certeza ela nunca será eterna. Invariavelmente temos a tendência a achar que fomos felizes em algum momento do passado, pois passamos por tantas na atualidade, que o que passou foi um tempo extremamente feliz para nós. Escrevi uma crônica sobre o meu passado e a publiquei em um blog que mantinha quando estava em Angola. Entre 2005 e 2008 trabalhava na reestruturação do país após os 30 anos de conflitos. Era um texto que tratava de uma visita a uma obra, no meio deste país, que havia sido executada por antigos companheiros meus há 25 anos. Na parede da barragem (era uma hidroelétrica) comecei a divagar comparando o momento que me encontrava com a época próxima à minha formatura quando trabalhava com este pessoal. Eu relatei os questionamentos que o estudante de engenharia fazia e as respostas que o engenheiro, 20 anos depois, proporcionava depois que tudo havia acontecido. Tudo entranhado na mesma pessoa. Achei a experiência incrível. Lembrar-se de situações tão remotas que tinham ligações com o presente. Quando cheguei à Luanda rememorando esta experiência, percebi que se aquilo foi tão distante no tempo, onde estariam as sensações da minha infância, onde estariam as sensações de Vitória de Santo Antão? Na minha cabeça minha infância em Vitória acabara de sair do plano da realidade para entrar em algo além do tempo e da felicidade. Algo perto da magia, do agora intangível, de alguma coisa que temos que às vezes procurar nas lacunas dos sonhos e do imaginário. Será que aquilo tudo existiu mesmo? É claro que vocês devem estar pensando "Este pirou, interna!". Mas respondam, quantos sonhos nós já tivemos com aquela época? Além que sonhos tive pesadelos. Sonhei com a minha antiga casa e ela estava vazia, sem móveis. Eu estava nela à noite e sozinho. Andava por todos os cômodos, como um espectro à procura de familiares sem ter sucesso. Tive sonhos com amigos, amigas, com o Colégio, com a cidade. Algumas pessoas que já se foram e estavam ali, em pontos estratégicos. E pelo visto não sou só eu que sonho assim! Claramente meu amigo/irmão Sérgio Chianca se declarou um exímio sonhador quando lhe enviei esta foto em julho do ano passado (2013). Ele imediatamente a publicou no Facebook e seu texto, que acompanhava a imagem, foi avassalador, digno de um grande sonhador e mágico das emoções: “Amigos de verdade! Fernando Melo e Alexandre Melo. Com esses dois passei grande parte da minha inesquecível infância. Cedro, DPV, Bola na garagem, Nossa Senhora das Graças. Dei trabalho pra caramba, D.Vininha que diga. Eita tempo maravilhoso que não sai da minha cabeça! Grande abraço meus irmãos, que Deus ilumine seus caminhos sempre.” Logo outros sonhadores vieram se juntar a imagem conhecida e ao texto que os transportava àquela época querida representada nesta foto. Encontrei Maria Augusta, Sandra, Arthur, Ana Cristina, Alexandre, Nuna... todos curtindo e mandando seus comentários ( bombou na web, he he he!). Com isto podemos dizer "Saímos de Vitória, mas Vitória não saiu de nós". E acho que nunca sairá. Deixando de colocar palavras na boca dos outros, acho que a sensação da mágica surgiu a partir do momento que verifiquei que aquele mundo das décadas de 60 e 70 ficou irremediavelmente para trás. O mundo hoje é pragmático demais. Não há espaço para a poesia, a fantasia e o espírito livre daqueles anos (nestes tempos não há mais espaço para hippies), apesar de vivermos uma ditadura naqueles tempos. Foram também anos de chumbo no Brasil. Também os anos pesaram para a América Latina, a Ásia e outros lugares do Mundo, enquanto a Europa caminhava para ares mais libertários a partir de 1968 com a revolta dos estudantes na França. Mesmo assim ficou ameaçada por grupos terroristas que não cansavam de fazer ações cada vez mais espetaculares. Para nós, criança daqueles tempos era difícil visualizar o que ocorria mundo afora. Vejamos a sequência dos grandes fatos deste período, para nós, para o Brasil e para o Mundo: 1. Assassinato de Kennedy - Novembro/1963 - O grande evento mundial no início de nossas vidas. Não teve qualquer interferência em nós, pois éramos bebês, ou alguns nem haviam nascido. Podemos entretanto imaginar a comoção no planeta e em nossos pais logo em nosso primeiro ano. 2.Antes disso, ainda em 1963 os Beatles gravaram o primeiro álbum Please Please me e chegaram pela primeira vez às paradas de sucesso britânicas. Fato importantíssimo para nós futuros aficionados. 3.Golpe militar - Março/1964 - Também sem a mínima interferência em nós naquele momento, tínhamos apenas 1 ano ou próximo disto. Mas dá para notar que somos verdadeiros "filhotes da ditadura", como falava o Brizola. Acho que a insegurança bateu em cheio na população com a democracia se esvaindo da vida cotidiana e o autoritarismo ocupando seu lugar. 4. Os Estados Unidos entram na guerra do Vietnam - Fevereiro/1965 - Este fato é importante, pois esta foi a primeira guerra transmitida em cores. A situação dos soldados, as atrocidades cometidas, bem como o resultado final da guerra influenciaram na cultura Pop daí pra frente. O conflito começou em 1959 e se arrastou pelo restante da década de 60 e metade da década de 70. Assim tivemos bastante contato com ele através de revistas e jornais televisivos (é emblemática a foto da menina vietnamita nua, correndo e chorando após um bombardeio com bombas Napalm). Depois vieram os filmes (dezenas) e livros (centenas). 5. Realização da VIII Copa do Mundo de Futebol, na Inglaterra. Junho/1966 - Campeão: Inglaterra. O Brasil já era bicampeão e estava disputando o tricampeonato. Saiu logo na primeira fase, eliminado por Portugal, com Pelé machucado. Não fomos felizes em nossa primeira Copa do Mundo. Será que éramos péfrio? Nós, felizmente, nem percebemos este malsucedido campeonato. 6. Lançamento do livro Cem anos de Solidão de Gabriel Garcia Marques - Maio/1967 - Pode não ser um acontecimento de impacto mundial, mas para mim foi. Acho um dos livros mais fantásticos que já li. O livro vendeu 8 milhões de cópias nas primeiras duas semanas. Fica a dica para quem ainda não teve este prazer. Neste mês o grupo inglês Pink Floyd faz seu primeiro concerto no Queen Elizabeth Hall em Londres, marcando sua fundação. 7. Guerra dos Seis Dias - Junho/1967 - foi um conflito armado que opôs Israel a uma frente de países árabes - Egito, Jordânia e Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão. As Colinas de Golam, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia tornaram-se alvos dessas batalhas e estes nomes frequentavam diariamente a nossa casa através da televisão. Daí pra frente o caldo do Oriente Médio, que já não estava frio, esquentou de vez e está fervendo até hoje. O ano de 1968 foi denominado pelo jornalista Zuenir Ventura como "O ano que não acabou" tal a quantidade de acontecimentos a nível nacional e internacional que mudaram e continuaram mudando o Brasil e o Mundo. Vou apenas citar os que para mim são mais influentes: 8. Fevereiro – Nossa turma se encontra no Jardim da Infância Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Professora Elzita, localizado no bairro do Livramento, Vitória de Santo Antão. Desse grupo faziam parte Carlos Henrique Bacelar, Gustavo Ferrer, Sérgio Chianca, Sandra Wanderley e eu, além de outros é claro. 9. Abril - O Líder negro e Prêmio Nobel da Paz de 1964, Martin Luther King é assassinado a tiros em Memphis, EUA, aos 39 anos de idade. Seu assassino foi um segregacionista do sul dos Estados Unidos. 10. Maio - A Revolução de Maio de 68 é iniciada por estudantes da Universidade de Paris e ocorre uma greve geral na França. Este fato influenciou boa parte do mundo ocidental, incluindo o Brasil. Foi onde surgiu o lema "É proibido proibir". 11. Junho - Robert Kennedy é assassinado a tiros no Hotel Ambassador em Los Angeles, na Califórnia. 12. Junho - Passeata dos 100 mil pelas ruas do centro do Rio de Janeiro contra a violência do governo, protestos são vistos por todo o Brasil. 13. Agosto - Tropas da União Soviética invadem a Tchecoslováquia colocando fim a Primavera de Praga, período de liberalização política na Tchecoslováquia durante a época de sua dominação pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. 14. Dezembro- AI-5 é editado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Costa e Silva, fechando o Congresso Nacional gerando caos no país. Os cidadãos brasileiros perderam seus direitos individuais. 15. É lançado o disco Led Zeppelin – Janeiro/1969 – Este lançamento oficializa a fundação do grupo. 16. O Homem chega à Lua – Junho/1969 - Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua, como comandante da missão Apollo 11. Apesar de ter 6 anos na época, tenho lembrança perfeita deste fato e das emoções que foram causadas ao meu redor. Todas as etapas desta jornada foram acompanhadas ao vivo, pela televisão, pelos poucos que possuíam esta regalia. Meu pai organizava reuniões com os amigos para ver as etapas desta odisseia que passava na TV. Eu ia junto. 17. Festival de Woodstock - Agosto/1969 - Aconteceu em uma fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade rural de Bethel, no estado de Nova York, Estados Unidos. Considerado o maior festival de rock de todos os tempos. Para os meus 6 anos este evento não teve a mínima importância. No futuro, porém fiquei aficionado pela mística do festival apesar de ser fã apenas do The Who e de Jimi Hendrix, principais músicos deste evento. 18. Doutores do ABC – Dezembro/ 1969 – Conseguimos este fantástico título com direito a anel de outo, missa para benzer os anéis e formatura no Clube Vassouras “O Camelo”. Na cerimônia entramos com beca branca e padrinho a tiracolo (a minha madrinha teve que ser substituída devido ao excesso de choro). 19. Nosso primeiro dia de aulas nas Escolas Reunidas Nossa Senhora do Rosário, primeira série primária - Fevereiro/1970 - A professora chamava-se Bininha e eu estava todo orgulhoso, pois aquela igreja, que virou escola, também havia educado meu pai. Além deste orgulho havia uma alta dose de frustação, pois naquela manhã do primeiro dia eu soube que meu grande amigo CarlosHenrique Bacelar havia pulado a série e em vez de estudar conosco à tarde, ele estudaria pela manhã com a profa. Lenira Macêdo, professora da segunda série. Esta frustação só veio melhorar quando conheci meus novos amigos, Maria do Carmo Portela (Carminha), Marcênio Chaves, Jorge Khouri e Anderson Gomes (Déu). Este ano começou também com uma outra notícia sobre perdas. Esta bem pior que a de Carlos Henrique, pois este fora para outra série, mas eu o veria sempre devido ele morar no mesmo bairro. Meu amigo de primeira hora João Batista Moura iria morar em Carpina. Seu pai se transferira para lá. Então nossas brincadeiras de empinar papagaio, jogar futebol, correr de nossos cachorros, jogar bolinha de gude e muitas outras ficariam órfãs também. Perderia meu companheiro de fogos de São João, de banhos de carnaval (nos outros e em nós também) e de bandido e mocinho. Esta foi a minha primeira experiência de ausência e bastante dolorida. 20. Paul Mcartney anuncia o fim dos Beatles – Abril/1970 – Esta triste notícia foi divulgada a revelia de John Lennon. Em Outubro de 1970 foi formado o Grupo Queen. Duas notícias fundamentais para mim, mesmo que sejam em épocas futuras. 21. Copa do Mundo do México - Junho/1970 - O Brasil vence a Itália por 4x1 e é o tricampeão do Mundial. Agora sim afugentamos o estigma de pé frios e na primeira Copa que nós nos entendíamos como gente, vimos um time mágico que tinha “a sutileza de Tostão, a exuberância de Jairzinho, a fúria alegre de Rivelino, o gênio felino de Pelé, a mente sinfônica de Gérson” (segundo John Carlin – escritor e Jornalista inglês). Este time iria mudar o futebol mundial com o seu jogo bonito e de objetivos, que hoje inspira europeus, como Pepe Guardiola, técnico do Bayer de Munique. Eram tempos em que eu, do alto de minha sabedoria dos sete anos incompletos, me excitava mais com a vibração dos gols do que com o jogo em si, pois achava que aquilo era normal, visto que tínhamos mágicos em campo e mágicos fazem mágicas. O time brasileiro então não poderia perder. Estranho aquela vibração toda! 22. Jimi Hendrix - Setembro/1970 - morre em Londres, dia 18, aquele que é considerado o maior guitarrista do Rock. 23. Rio de Janeiro/1972 – Este foi um dos momentos mais esfuziantes da minha infância. Neste mês eu minha mãe e meu irmão Alexandre fomos conhecer o Rio de Janeiro. Meu tio Waldir morava lá e eu fui encontrar meus primos que já haviam estado aqui. Imagine o que é para uma criança nordestina conhecer as terras cariocas. Foi algo equiparado a ir a Terra do Nunca e visitar Peter Pan, Wendy e os meninos perdidos. No Aeroporto pegamos o pó de Pirlim-pim-pim da fada Varig e voamos para o Aeroporto de Santos Dumont que ficava na Terra do Nunca, óbvio! Aquele mundo que eu só via na televisão, de repente começou a ser real. Todas as atrações turísticas foram visitadas. Entramos no mundo da realeza do Brasil, que eu estava acostumado apenas nos livros de História. Os palácios da Quinta da Boa Vista e de Petrópolis me encheram os olhos infantis. Aquela viagem ficou na minha cabeça por uns bons anos. 24. Colégio N. S. da Graça -terceira série – Fevereiro/1972 – Este momento foi um divisor de águas em nossas curtas vidas. Saímos do espaço diminuto da sala da Igreja do Rosário para o universo amplo do Colégio. Apesar de tudo ser vantajoso, isto não se apresentou desta forma nos primeiros momentos. A princípio perdemos amigos imprescindíveis como Marcênio, Carminha e Déu que continuaram na Escola do Rosário. Outra razão era que o Colégio ainda mantinha certa filosofia atrasada de separação dos sexos. Ou seja, fomos para uma sala cuja predominância era de meninos (havia 5 meninas retardatárias na matrícula). Dizendo melhor perdemos os amigos e as meninas, que foram colocadas em uma sala só delas. Apesar das desvantagens aparentes, aos poucos fomos percebendo os lucros da troca de escola. Nós podíamos correr o mais que quiséssemos que havia espaço. Podíamos jogar futebol, pois além da quadra os locais para pelada não faltavam. Havia um parque com brinquedos, que nos era liberado uma vez por mês durante o recreio. Quanto às meninas, Sandra foi colocada na sala feminina junto com Eliane Mariano, Fátima Alvares, as gêmeas Yara Jane e Aparecida, Aparecida Alvares, Sabrina Connoly, entre outras. Ficamos separados delas até os festejos juninos, quando as classes se misturaram e cada um arranjou seu par para as danças da festa. Daí em diante a vida foi diferente, pois entraram em cena as paqueras, os namoricos, as paixões platônicas e as desilusões. E viva esta época! 25. Olimpíadas de Munique - Setembro/1972 - Em 5 de setembro de 1972, oito terroristas do grupo palestino Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica de Munique e ocuparam os apartamentos da delegação israelense. Dois atletas foram assassinados na hora. Outros nove foram mantidos reféns. Os terroristas exigiam a libertação de mais de 200 prisioneiros palestinos por Israel, que rejeitou a troca. Horas depois, os reféns foram levados ao Aeroporto Fürstenfeldbruck, onde os alemães prometiam fornecer um avião para a fuga dos palestinos. Era uma armadilha para tentar resgatar os israelenses. A operação foi um fracasso e todos os reféns foram mortos, além de um soldado alemão e cinco terroristas. Os Jogos Olímpicos foram interrompidos por um dia para as cerimônias fúnebres em honra aos atletas. Assim os Jogos ficaram marcados pelas façanhas do nadador americano Mark Spitz, que conseguiu o recorde de 7 medalhas de ouro e por esta tragédia. Lembro-me de algumas fotos nas revistas da época (inclusive da emblemática e horripilante imagem do terrorista do Setembro Negro encapuzado na sacada do prédio 31 da Vila Olímpica). Claro que, devido a nossa idade, não participamos da comoção mundial que um fato como este provocou. 26. Emerson Fittipaldi – Setembro/1972 – Em 10 de Setembro de 1972 em Monza na Itália o Brasil passa a elite das corridas de Fórmula 1, com Emerson Fittipaldi ganhando a prova e sagrando-se o primeiro campeão mundial brasileiro e o mais jovem (com 25 anos). Ganhou o campeonato com duas provas de antecipação. Lembro-me que neste dia meu pai sintonizou no rádio do carro uma transmissão esfuziante desta vitória, que elevava ainda mais o nosso orgulho. Emerson e sua incrível Lotus preta viraram um pôster no meu quarto e ele passou a ser cultuado por todos os meninos como herói. Depois de muitos anos eu soube que aquela transmissão era feita pelo próprio pai de Emerson, que era jornalista e narrava a vitória do filho. 27. Uma década – Fevereiro/1973 – Neste ano ingressamos na quarta série primária e completamos 10 anos de vida. Estávamos felizes no Colégio N. S. da Graça, com a professora Socorro Barreto e a classe parada dura. Neste ano nosso amigo Marcênio Chaves ingressou no Colégio, sendo mais uma alma singela a tocar fogo no recreio he he he he! 28. Chile - Setembro/1973 - O Golpe de Estado de 11 de Setembro, ocorrido no Chile em 1973, consistiu na derrubada do regime democrático constitucional do Chile, e da morte de seu presidente Salvador Allende, que se suicidou. Foi articulado conjuntamente por oficiais agitadores da marinha e do exército chileno, com apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos, bem como de organizações terroristas chilenas, tendo sido encabeçado pelo general Augusto Pinochet, que se proclamou presidente. 29. A Guerra do Yom Kippur - Outubro/1973 - Conflito militar ocorrido de 6 de Outubro a 26 de Outubro de 1973, entre uma coalizão de estados árabes liderados por Egito e Síria contra Israel. O episódio começou com um contra-ataque inesperado do Egito e Síria. Coincidindo com o dia do feriado judaico Yom Kippur. Egito e Síria cruzaram as linhas de cessar-fogo no Sinai e nas Colinas de Golan, respectivamente, as que foram capturadas por Israel em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias. Israel se recupera depois de duas semanas de luta e invade a Síria e o Egito. A guerra foi contida por um cessar fogo imposto pela ONU. A consequência mais importante para nós foi que nossos pais começaram a reclamar cada vez mais do preço da gasolina, pois os países árabes retaliaram o resultado adverso com a criação de uma frente de países árabes produtores de petróleo, que aumentava constantemente o preço do combustível. 30. Edifício Joelma - Fevereiro/1974 - Este é um dos tópicos difíceis de escrever, pois se trata de uma das lembranças mais terríveis do período infância e pré-adolescência. Lembro-me de ser uma sexta o 1o. de Fevereiro e havíamos ido ao Cedro para passar uma daquelas manhãs aprazíveis (jogar bola, brincar com Sérgio, Sandra e a turma, visitar as cocheiras etc.). À tarde, viajamos para Recife a fim de passarmos o final de semana com a minha avó Belinha. Durante todo o dia já se sabia que estava acontecendo em São Paulo, pois a televisão não parava de fornecer flashes do Edifício envolto em chamas. Quando meu pai ligou a televisão para assistir ao Jornal Nacional, toda a história foi narrada e mostrada com riqueza de detalhes. Ao todo 191 pessoas morreram e 345 ficaram feridas. Dos mortos 22 pularam do edifício em desespero. Estas cenas ficaram gravadas em minha memória e na época passei diversas noites sem dormir, impressionado com aquilo tudo. Depois vieram as revistas com fotos detalhadas que renovaram meus sentimentos em relação àquela tragédia. Foi um período muito triste realmente. O Edifício Joelma foi rebatizado como Edifício Praça da Bandeira, mas as histórias de eventos sobrenaturais e espíritos vagando por seus andares e estacionamentos, nunca abandonaram a edificação. 31. Ginásio - Fevereiro/1974 - Encaramos nossa pré-adolescência, que se formalizava com a entrada na 5a série. Neste ano tudo mudou. Fomos colocados na mesma classe das nossas amigas Sandra, Fátima, Aparecida, Eliane etc. Houve também a vinda de Carminha e Déu que estavam na escola do Rosário e se juntaram novamente ao grupo. Chegou também, vindo de Carpina, João Batista Moura, outro amigo/irmão. Este me fazia falta desde 1970 quando sua família se mudou. Recebemos o período ginasial com um certo impacto, pois aquele ano parecia ser de maior responsabilidade, haja vista a troca de professores a cada matéria e o medo que Carlos Henrique nos fazia, pois ele sempre estava um ano à frente. Mas, para nós, a interação com as amigas na classe foi muito mais importante do que o medo das matérias. Continuávamos felizes naquele ambiente e um pouco mais maduros. 32. Copa do Mundo de Futebol - Junho/1974 - Realizada na Alemanha. Nesta Copa eu esperava sentir as sensações que senti em 1970. A Seleção Brasileira era formada por um time com alguns remanescente da antiga e gloriosa seleção de 70 e uma maioria renovada de craques. Este time sem muito liga foi empatando e ganhando sem convencer muito a torcida que estava acostumada a vitórias e glórias dos anos anteriores. Demos de cara com um tal "Carrossel Holandês" cujo comandante Johan Cruijff sabia até onde iria levar a sua seleção. Em seus planos não estava perder do Brasil na semifinal. Perdemos por 2 a 0 e eu entendi que a Copa do Mundo não era um evento feito exclusivamente para que o Brasil fosse campeão. Havia outras seleções tão boas quanto a nossa, como a da Alemanha que ganhou o campeonato, surpreendendo a todos os que já contavam com a Holanda de Cruijff campeã. Ficamos com a 4ª colocação, pois ainda perdemos da Polônia por 1 a 0 na disputa do terceiro lugar. O pior é que fiquei aprendendo esta lição por muito tempo. Vinte anos mais... 33. Nixon - Agosto/1974 - Em 9 de agosto o Presidente Nixon renuncia à Presidência dos Estados Unidos após o escândalo de Watergate. Este escândalo consistiu na descoberta que dois jornalistas do Washigton Post fizeram de fatos ocorridos na campanha eleitoral para a Presidência, em 1972. Os escritórios do Partido Democrata, no complexo de prédios chamado Watergate, haviam sido invadidos e os documentos lá existentes, foram fotografados ou roubados. Após intensas investigações os jornalistas chegaram à conclusão de que era gente do partido Republicano e que o Presidente sabia de tudo. Lembro-me deste dia, pois a agitação nos telejornais foi bastante intensa e principalmente lembro da resposta do meu pai quando perguntei sobre o que estava acontecendo - "O presidente dos Estados Unidos renunciou". 34. Emerson Fittipaldi – Outubro/1974 - Novamente o grande Emerson Fittipaldi sagra-se campeão Mundial de Fórmula 1 no dia 6 de Outubro de 1974 na corrida de Whatkins Glen nos Estados Unidos. Ele terminou em 4º lugar, o suficiente para se distanciar de Jody Scheckter, piloto Sul-africano com quem disputava no final da temporada. Não houve uma grande comemoração neste dia, pois aconteceu um fato triste que resultou na morte do piloto austríaco Helmuth Koiningg. Ele escapou na 2ª curva, no início da prova, batendo em uma mureta metálica e sendo por ela decapitado. Com esta conquista Emerson lavava assim a minha alma e a de muitos brasileiros, tão machucada pela perda da Copa. Troquei o pôster de Emerson, no meu quarto, por um novo de bicampeão e com a McLaren vermelha e branca. 35. 6ª série - Fevereiro/1975 - Demos início a mais um ano letivo no Colégio N. S. da Graça e este ano foi um pouco diferente, a professora de Geografia era a mesma irmã Perpétua que ensinava Matemática (por incrível que pareça, nos fez gostar de pesquisar os estados brasileiros). Fui expulso da aula de Português pela professora Jadenise, o que fez eu dar um rolé sozinho nos corredores, escapando da irmã Anunciação, que era a bedel do Colégio na época. No mais foi um ano estimulante e cheio de possibilidades. 36. Microsoft - Abril/1975 - Em 4 de Abril Bill Gates e Paul Allen fundam a Microsoft. Este fato isolado não teve nenhuma repercursão de momento em nossa turma, nem em lugar nenhum inclusive, mas como sabemos, é bastante relevante no futuro. Nós como uma geração flexível tivemos que nos adaptar à tecnologia que nunca tivemos com que nos preocupar em nossa infância. Saímos do pião, do papagaio e das bonecas e bolinhas de gude para o mundo de computadores e Internet. O Mundo só teve a ganhar com este simples evento ocorrido neste dia. 37.Saigon, Vietnam - Abril/1975 - Vitória do Vietnam do Norte sobre o Vietnam do Sul. Os Estados Unidos saem da guerra numa retirada que ficou memorável, com a sua embaixada invadida por sul-vietnamitas que desejavam fugir das tropas vietcongs. Em 30 de Abril de 1975 foi criada a República Socialista do Vietnam, pondo fim a 20 anos de conflitos. Lembro de uma reportagem onde aparecia um tanque derrubando o portão do Palácio do Governo do Vietnam. 38. Macondo, Colômbia - Abril/1975 - José Arcádio cursava o 6º ano no Colégio N. S. do Desterro. Era véspera da primeira prova de Matemática do ano, matéria lecionada pela irmã Clemência que impunha uma ansiedade genuína na turma devido a sua rigidez durante as aulas. Assim ele reuniu à noite suas belas amigas Fernanda, Úrsula e Rebeca e mais seu amigão Maurício para que todos juntos recebessem orientações de seu pai. Sr. Buendia resolvia exercícios e tirava as dúvidas de todos. José Arcádio percebeu que antes dos estudos as garotas olharam o jardim de sua casa e ficaram impressionadas com a quantidade e a qualidade das rosas que seus pais cultivavam. No dia seguinte José Arcádio foi cedo ao jardim e colheu três rosas. Uma branca com as bordas das pétalas azuis, linda e bastante delicada. Outra rosa vermelho-sangue, recém-saída da fase de botão, admirável e com uma personalidade forte e significativa. E a última de cor amarelo-alaranjada que por sua beleza e tênue contraste das cores possuía uma realeza particular, quase imperiosa. Ao chegar ao colégio, antes de começar a prova, José Arcádio deu uma rosa a cada colega. A branca ele entregou a Fernanda, a vermelha a Rebeca e a amarelo alaranjada ofereceu a Úrsula. Elas agradeceram e como não eram de se derramar em sentimentos, José Arcádio intuiu que o presente agradara pelos brilhos nos olhos de cada uma. Fizeram a prova e ao terminarem, José Arcádio percebeu uma confusão no meio da sala. Só ouvia a voz de Aureliano, que era seu amigo/irmão, comandando uma reação da turma direcionada a Rebeca. Tinha a ver com a rosa que ele lhe dera. Aureliano, que era um líder nato, estava fustigando os colegas a perturbarem a pobre da garota. Rebeca não estava gostando nem um pouco da brincadeira e reagia contra as estripulias de Aureliano, que era arteiro. Este vendo que Rebeca estava nas últimas, aumentou a intensidade da brincadeira até que... ela jogou o que estava mais perto no colega bagunceiro. A rosa bateu no peito de Aureliano, que era instigado, e caiu no chão. Aureliano, que era levado, correu para José Arcádio gritando "José, José, Rebeca jogou a rosa no chão." José Arcádio que até então só ouvira o murmúrio dos colegas viu a rosa vermelha, cheia de personalidade, gritando no chão. Rebeca então atendeu aos apelos da rosa, pegou-a e a colocou na banqueta. José Arcádio então perguntou "Rebeca, você jogou a rosa no chão?" Ao que a garota respondeu, com a paciência no limite, "Joguei na cara dele, pois ele estava me abusando" e apontou para Aureliano, que era virado e estava contendo o riso. José Arcádio não gostou da resposta, voltou para o seu lugar, aguentou todas as provocações da turma e não falou mais nada com Rebeca. Como era bobo este José Arcádio. Isto tudo pode não ter acontecido assim. Pode o lugar não ter sido este. Podem as pessoas nem ter sido estas. Podem estes fatos ainda nem terem acontecido e ser tudo fruto da imaginação popular, mas... vale o registro, he he he! 39. Vladimir Herzog – Outubro/1975 – Morre nas dependências do DOI/CODI em São Paulo, vítima de torturas, o Jornalista e dramaturgo Vladimir Herzog em 25 de Outubro. A foto forjada de seu enforcamento em uma janela com a metade de sua altura correu o país e o Mundo, escancarando de vez a ditadura. A partir daí estas ações foram coibidas pela alta cúpula militar dando início ao processo de abertura política no Brasil. 40. Angola - Novembro/1975 - Diferente da Independência de Moçambique, que o Brasil foi o último a reconhecer, esperando o reconhecimento de Portugal, o Presidente Geisel mandou seu chanceler ficar prevenido e atento para ser o primeiro a reconhecer a Independência de Angola. Esta se deu em 11 de Novembro de 1975, quando Agostinho Neto fez seu discurso declarando o país livre do domínio Português, tornando-se seu primeiro presidente. Infelizmente os partidos políticos que lutaram unidos para que o país conseguisse ser livre, imediatamente entraram em uma sangrenta guerra civil, uns contra os outros, que durou 30 anos, só terminando com a morte do líder da UNITA Jonas Savimbi, que fazia oposição ao Governo do MPLA. Isto ocorreu em 22 de Fevereiro de 2002. Sempre vi pelo jornal as movimentações, tanto da guerra colonial, quanto da guerra civil. O nome UNITA não era estranho para mim e as imagens em preto e branco do Jornal Nacional sempre mostravam os avanços destes conflitos. Eram lembranças tênues de um adolescente que estava vendo a televisão, mas não estava nem aí para o que estava sendo mostrado, nem entendendo nada do que se passava. Mal sabia eu que aquilo tudo seria vivenciado por mim décadas depois, quando viajei o país de norte a sul como um dos engenheiros designados para conceber e trabalhar a reconstrução de Angola (leia em “Crônicas de Luanda” www.fafm86@blogspot.com). 41. 7ª Série – Fevereiro/1976 – Este é um ano que vive sempre fervilhando em minha memória. Porque? Não há muita razão para responder e há. Foi um ano particularmente feliz para mim. Não sei se pela viagem que fiz com minha família pelo sul do país no meio do ano, não sei se pela própria evolução da adolescência, com os hormônios em ebulição, perturbando sentimentos e ações, mas as grandes recordações estão mesmo é dentro de uma sala bastante arejada do Colégio. Esta sala voltava-se para a quadra e nela a interação da turma se aprofundou muito. Era o terceiro ano que estávamos todos juntos. As meninas que ganhavam a maturidade mais cedo, ficavam dia-a-dia mais bonitas e pior, estavam se distanciando emocionalmente de nós. Tivemos que resolver este problema cada um à sua maneira, uns namorando meninas mais novas, poucos namorando meninas mais velhas e a maioria assumindo a perda e pronto. Sem querer ser muito "Caxias", o que realmente dinamizou a turma este ano foram as aulas de Geografia, ministradas pela diretora do Colégio Madre Tarcísia. Com a autoridade de diretora, ela tinha uma forma de dominar a turma que poucos professores possuíam. Com sua didática diferenciada ela nos levou a viajar pela América do Sul, América do Norte e Europa através de seus seminários que eram realizados por equipes compostas por nós alunos. Estas se dedicavam a pesquisa de determinados países e apresentavam aos colegas o resultado do se trabalho. Lembro-me que até os hinos dos países eram investigados e cantados. Em outra oportunidade ela programou uma disputa entre classes da 7ª série para estudar os países da península ibérica. Ficamos com a Espanha e até uma dança de castanholas foi apresentada (Kátia dançou uma dança meio flamenca e foi bastante aplaudida.). Madre Tarcísia, com sua cultura ampla, nos deu uma visão de planeta globalizado e forçou-nos a nos atualizar e contextualizar o mundo em que vivíamos. Através de debates de reportagens da TV ela mostrava que o contexto mundial não se resumia apenas aos assuntos corriqueiros daquela cidade. Toda esta forma de ensinar era bastante inovadora para a época. Isto mexeu com o imaginário de todos, pois todos sem exceção eram motivados (ou forçados) a se apresentar e dar o seu recado. Grandes lembranças! Alguns não gostavam daqueles desafios, mas o certo é que ninguém pôde ficar indiferente. Esta pode se chamada de Mestra. Foi um grande ano! 42. Apple - Abril/1976 - 1 de Abril - Steve Jobs e Steve Wozniac lançam a Apple Inc. Assim como aconteceu com a Microsoft, tudo continuou como se nada houvesse acontecido no nosso dia a dia, apenas ninguém percebia que uma revolução tecnológica estava em curso nos EUA e iria interferir fundamentalmente em nossa vida futura. Nossa geração flexível teve que absorver a evolução drástica que este fato imporia à sociedade com os Laptops, Ipods, Ipads, etc. 43. Argentina – Março/1976 - Uma Junta Militar depõe Isabelita Perón do cargo de presidente da Argentina em 24 de Março. Mais tarde, no mesmo ano, Jorge Rafael Videla ocupa o lugar de Isabelita e impõe uma das mais temíveis ditaduras da América do Sul. Este fato foi amplamente discutido em nossa sala de aula com Madre Tarcísia ao comando. Lembro, pois fui eu quem levou a descrição da reportagem do Jornal Nacional. Pobres argentinos! Pobres de toda a América do Sul que passava por ditaduras de direita naqueles tempo, inclusive nós brasileiros. 44. Montreal - Junho/1976 - Novas Olimpíadas. O destaque desta foi a Romena Nadia Comannecci que ganhou a primeira nota 10 na ginástica solo e criou um padrão de qualidade misturados a seu carisma e simpatia. Novamente o Brasil decepcionou nos Jogos com apenas 2 medalhas de bronze. Pobres brasileiros! 45.SHangai - Setembro/1976 -Morre Mao Tsé-Tung em 9 de Setembro. Foi um político, teórico, líder comunista, ditador e revolucionário chinês. Liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o país desde a sua criação em 1949 até sua morte em 1976. Sua contribuição teórica para o marxismo-leninismo, estratégias militares, e suas políticas comunistas são conhecidas coletivamente como maoísmo. Devido a implantação de sua Revolução Cultural foi responsável pela morte de mais de 50 milhoes de pessoas. Logo após sua morte a China começa a fazer uma mudança radical na sua economia, que culminou com o regime atual que incentiva o aparecimento de empresas e o capital privado. 46. Fórmula 1 - Outubro/1976 - Como eu torci no início do ano! Emerson havia tomado a decisão radical de sair da Mclaren e entrar na equipe de seu irmão Wilson Fittipaldi, uma escuderia brasileira chamada Copersucar. Logo nas primeiras corridas vimos o nosso bicampeão que sempre andava nas primeiras posições, se arrastando nas pistas. Vi que era um caso difícil e que não poderia esperar de meu ídolo mais que aquilo que ele estava dando. O Copersucar Fittipaldi deu algumas alegrias aos brasileiros: Em 1978 Emerson ficou em 2° lugar no Grande Prêmio do Brasil; em 1980 o time brasileiro ficou em 8° lugar no campeonato de construtores, à frente da Ferrari que ficou em 10°. Em outros campeonatos a escuderia deixara para trás equipes como a Mclarem e Willians. Sem apoio de patrocinadores a equipe fechou em 1982 com total descrédito da torcida. Emerson não merecia este destino na Fórmula 1, mas sonho é sonho, uns dão certo, outros não. Recomecei a torcer pelo meu ídolo na Fórmula Indy, mas isto é outra história. Neste ano de 1976 vi um dos campeonatos mais eletrizantes que se tem notícia. A disputa pelo primeiro lugar entre o austríaco Nikki Lauda e o inglês James Hunt. Estes dois eram amigos civilizados, mas não podiam entrar em seus carros de corrida que, entre si, produziam lascas para todos os lados. Neste ano a rivalidade chegou ao extremo, pois Lauda caminhava para o bicampeonato quando teve um terrível acidente na Alemanha. Foi retirado do carro em meio as chamas e entrou em processo de recuperação que deveria ser lento e gradual. Eu não gostava muito de Lauda. Reconhecia nele um piloto soberbo, capaz de ameaçar a supremacia do meu ídolo Emerson. Para a minha surpresa duas corridas depois aparece um Lauda todo enfaixado, com queimaduras aparentes que deformavam seu rosto, contrariando todas as previsões e indicações médicas. Motivado pelas vitórias de Hunt e pela rivalidade, Lauda voltou surpreendentemente ao campeonato e tirou um 4° lugar na corrida da Itália, 8° no Canadá e 3° nos Estados Unidos. Na última corrida Hunt estava a quatro pontos dele, pois havia se dado bem em quase todas as etapas que Lauda se dera mal. Chovia a cântaros no Japão e a corrida começou. Lauda deu 3 voltas na pista e parou sem motivos aparentes. Muitos pilotos abandonaram a prova no início, inclusive os dois brasileiros que a disputavam, Emerson e Carlos Pace. Hunt teve problemas, mas nas últimas voltas estava em quarto, posição que não garantiria o campeonato. Foi quando teve que parar para trocar um pneu. O chefe de sua equipe o mandou maneirar o ritmo devido ao risco da prova. Hunt se enfureceu, não obedeceu e correu como nunca naquela chuva. Ao final chegou em terceiro e garantiu o campeonato. Naquele ano ganhei mais um ídolo na fórmula 1 e ele chamava-se Nikki Lauda. Avaliei o drama em sua consciência que o fez se desapegar do campeonato e dar a chance a seu rival após todo esforço que fizera para se recuperar. Lauda já era campeão em 1975 e ganhou mais dois campeonatos após este ano, sempre com a minha torcida. Todo este drama encontra-se em um filme soberbo, chamado "RUSH - Em nome da glória", que estreou no ano de 2013. 47. Macondo, Colômbia - Dezembro/1976 - José Arcádio recebe a notícia que Fernanda iria para a capital e não estudaria na sua turma no último ano do ginásio. Ele já sabia que Aureliano e Fábio iriam seguir o rumo idêntico, agora Fernanda. José Arcádio pensou no próximo ano sem os dois. Como seria sem Fábio que fora amigo de sempre e de mães (a mãe dele era amiga de infância da sua), apesar de ter pulado uma série nunca perdera o contato com ele. Dividiam opiniões, brincadeiras e paixões platônicas (pela mesma garota). Um dos passatempos de Fábio era produzir toda uma cadeia de temores sobre a próxima série escolar que José Arcádio e sua turma ainda iriam enfrentar. Como seria sem Aureliano com sua espontaneidade e senso de humor (que às vezes até o irritava, quando pegava no seu pé. Coisas de irmãos). Como seria sem Fernanda, amiga de primeira lembrança, daquela quando se começa a achar que é gente. Amiga querida com quem dividia os estudos ( e aí nutria também uma pequena rivalidade). Como seria o ano sem o convívio e a amizade destes três. Lembrou-se quando Maurício, outro amigo de barriga, fora para longe, passando anos da infância fora. Seria aquele mesmo vazio multiplicado por três. Assim o ano de 1976, que fora um ano magnífico, se encerrava com uma notícia de ausência, ausência de pedaços dele. 48. 8ª série - Fevereiro/1977 - Este foi nosso último ano em Vitória. Foi um ano atípico parecia que a cidade queria fazer uma despedida, nos dando situações diferentes das que estávamos acostumados. Para começar Sérgio e Sandra não mais faziam parte de nossa turma. Só isto já era algo para mudar completamente nossas estruturas. O vazio deixado pro eles parecia que não seria preenchido durante o ano. A professora de Matemática mudou. Irmã Perpétua, que era conhecida por sua rigidez no trato com os alunos, foi transferida para outro colégio da instituição. Era daquelas que impunha respeito à toda a classe. Estávamos acostumados com aquela austeridade, pois sabíamos que estávamos na mão de uma mestra que faria frente a qualquer professor de Recife. Os professores que vieram substituí-la, um em sequência do outro, deixaram uma sensação de "algo faltando". A professora de Ciências começou a titubear na matéria e logo percebemos que ela ou não dominava o assunto, ou estava passando por problemas pessoais. E logo em iniciação a Física e Química, que nos seria exigido no 2º grau. Logo no início do ano nosso colega Fernando Urquiza fora atingido por um tiro em uma festa de clube. Com isto teve que abandonar o ano letivo para se tratar e fazer fisioterapia. Aquele fato abalou a todos e influenciou nas nossas relações de classe. Quanto a mim, eu me transformei também. Estava com 14 anos e os hormônios explodindo por dentro. Já achava que não havia tanta necessidade daquela dedicação toda aos estudos. Deixaria aquilo para o próximo ano. Coloquei na cabeça que deveria relaxar. Obviamente não descuidei, mas também não me entreguei aos estudos como fazia antigamente. Marcênio e Déu preencheram a lacuna que Sérgio deixara. Marcênio me puxava para Matemática, matéria em que eu era bom, mas não estava muito a fim naquele ano. Com o que estudamos deu para o gasto. Obrigávamo-nos a manter uma disciplina na natação, herança do Professor Iolanda que nos orientou por quase um ano neste esporte e nos deixou quando a frequência das aulas se resumia a mim e Marcênio. Tentávamos nadar mil metros duas ou três vezes na semana na piscina da AABB. Déu criou empatia conosco, devido a nossa convivência anterior, aos esportes e ao time que torcíamos. Ele sabia dirigir e de vez em quando passeávamos no carro do pai dele. Íamos a fábrica de pipoca da família e comíamos até nos fartar. Explorávamos locais na cidade que em todo o resto da minha vida anterior eu nunca fora. Nós três formamos um time de futebol e organizamos campeonatos com outros times de outros colégios. Eu nunca fui bom jogador, me dava melhor em judô e natação, mas para o que nos propúnhamos (diversão) dava para o gasto. A estas aventuras juntou-se também nosso temperamental amigo João da Cruz Junior. O ano foi uma grande farra com estes colegas. Ficamos desapegados das meninas da sala, também em parte por elas estranharem aqueles comportamentos e também já estarem desapegadas de nós. Acho que tinha também influência a ausência de Sandra que fazia o elo de comunicação com elas. A cidade ficara pequena de um ano para o outro e conhecemos muita gente diferente, principalmente novas meninas que não eram do Colégio, he he he! 49. Star Wars, Maio/77 – Foi lançado, a nível mundial o filme STAR WARS de George Lucas. Eu só o veria próximo ao final do ano, mas foi um filme que mudou a nossa geração. Novos parâmetros de entretenimento estavam ali na tela daquele filme. A trilha sonora, os personagens e os atores entraram em nossas vidas de forma avassaladora. Ficamos boquiabertos com aquela nova forma de se contar uma história. Eram novas tecnologias sendo apresentada em forma de fantasia. Divertimento puro misturado ao sonho de viver aquilo ali. Para quem era um bom sonhador nem precisava daquilo tudo. 50. Macondo , Maio/1977 – José Arcádio sentia que algo mudara nele e em tudo que estava ao seu redor. Com a ida de seus amigos para a capital, a classe estava mais vazia e ele teve que se virar para suprir àquelas faltas. Ainda bem que outros companheiros estavam ali presentes para não deixar o mundo perder a oscilação. Institivamente sentiu que era a hora de iniciar uma pequena reviravolta. José Arcádio sentiu vontade de mudar certas condutas. E isto não ficou despercebido, principalmente na ala feminina. Começou o ano estudando com Úrsula e outra amiga chamada Remédios, nas festas do Carnaval admirara a amiga em cima do carro alegórico. Dissera a ela que a achara lindíssima. Infelizmente sentiu uma reação bem contida ao seu elogio. Então, com o passar do tempo, a cidade começou a girar e o Mundo também, José Arcádio continuou com suas mudanças internas, mas em breve ele e Úrsula se envolveram em uma pequena discussão devido a alguma falha que ele cometera. Isto deixou a garota com raiva. Ele não entendeu por que tanta comoção, já que antes haviam discutido mais acaloradamente e sem tanta repercussão. Em breve Remédios também estava chateada e depois várias outras deixaram de falar com ele. José Arcádio fez uma estimativa que indicava que mais da metade das meninas estavam chateadas. Ele não sabia o motivo e não entendera o porquê de todo aquele ressentimento. Como ainda continuava tolo este José Arcádio. O Carnaval de Macondo era parecido com o de outras cidades do Brasil. Possuía carros alegóricos, troças, bandas, muita animação e mela-mela. Tudo para que se possa duvidar onde teria realmente acontecido estes fatos. 51. Elvis – Agosto/1977 – Em 16 de Agosto morre o ícone da cultura popular Elvis Presley. Ele influenciou muitos artistas do Rock e do Pop da época (inclusive a maioria dos meus artistas prediletos, como Jimmy Page do Led Zeppelin). Sua trajetória foi emblemática, criou um padrão de apresentação que poucos conseguiram e provocou muitos rancores nos artistas mais famosos de então. Era chamado de "Elvis The Pelvis" pela sua forma insinuante de dançar, que enlouqueceu a mulherada e provocou revolta nos pais delas e nas Igrejas. Elvis era uma força da natureza, além de bonitão era carismático e possuía um timbre de voz que poucos cantores na história conseguiram. Suas músicas são cultuadas até hoje e seus filmes ainda passam nas TVs pagas. A partir da década de 70, Elvis entrou em um processo conturbado devido a disputa pela popularidade com os Beatles e também com outros motivos particulares. Tudo isto o levou a intensificar o uso das drogas e bebidas. Engordou muito e nos últimos shows já era uma sombra do que fora no auge da carreira. Lembro-me muito bem de todo o impacto da sua morte. Logo surgiram legiões de viúvas (inclusive minha prima que eu nunca a vira ouvindo uma música sequer dele). Elas choravam copiosamente na televisão, nos jornais, nas praças e em muitos lugares (inclusive em Vitória de Santo Antão). Lembro dos programas especiais que as redes de televisão fizeram por motivo de sua morte e nas cerimônias fúnebres. Todos eles sempre terminavam com o carro chefe de sua carreira, a lacrimosa "Love me tender". 52. Charles Chaplin - Dezembro/1977- Outro que se foi neste ano e deixou uma tremenda saudade. Hoje seus filmes são cultuados como obras primas de um gênio da arte de fazer cinema. Conheci seus filmes logo cedo devido a fascinação que meu pai nutria por Chaplin. Talvez antes de sua morte eu tenha visto metade de seus filmes. Admirava aqueles filmes rústicos que mostravam situações tão absurdas que era incrível como se conseguia sequências como aquelas naqueles tempos. Mas o mais sensacional era a própria figura do vagabundo que se multifacetava em diversos personagens, mas continuava sempre vagabundo. Foi outra perda que senti bastante. 53. Macondo - Dezembro/1977 - Chega o fim do ano letivo para José Arcádio e seus colegas. Após a entrega dos resultados em um dia de Dezembro, José Arcádio sai de sua sala e começa a se despedir do lugar onde fora tão feliz. O Colégio N. S. do Desterro ficaria para sempre entranhado em sua vida daí pra frente. Ele sairia do real no seu dia a dia para ocupar um espaço incomensurável no seu coração. Fez um percurso que abrangia todas as salas que ele ocupara naqueles anos. Não sentia vontade de chorar, mas sabia que aquela fase que terminara em sua vida nunca mais voltaria e jamais seria substituída por outra. Agora não eram apenas dois colegas que faltariam, mas uma classe inteira. Como lidar com esta perda? Só com a esperança de dias futuros melhores. Só com a emoção que um futuro promissor, que o aguardava ali na esquina, podia oferecer. Só a garra de conquistar este futuro poderia dar alívio aos sentimentos da infância que estavam ali naquele colégio, naquele bairro, naquela cidade. Com estes pensamentos ia retornado, pela última vez, a sua sala. Antes de entrar uma mão pegou em seu braço. Era Rebeca, que estava tão emocionada quanto ele. Não trocaram palavras, apenas se deram as mãos. 54. Atemporal – Pegando um gancho na lista que Sérgio Bessa deu em seu texto, reproduzido acima, digo também que Vitória também foi: A praça da Matriz - que desde criança a frequentamos com seu espaços para correr, seus jardins, bancos, coreto, bares e Igrejas. É um espaço fundamental para todas as gerações que passaram pela cidade e que às vezes encontra-se tão depauperada que chega a fazer quem ama esta cidade se revoltar com o descaso. A Rua Antão Borges Alves - A chamada "rua de baixo" para quem morava na "rua de cima" ou rua Dr. João Moura. Ra uma rua larga, cujos atrativos consistia na moradia de boa parte dos amigos e amigas. Então era a rua do frisson. Para ela convergiam os encontros noturnos, o futebol, as paqueras e até mesmo o Judô transferiu-se para ela. Boa parte do barulho concentrava-se ali - Festas, estudos, aulas de violão, encontros jovens, etc. Foi um local onde quase tudo acontecia. Judô - Este ambiente não podia faltar. Desde nossa idade mais tenra que entramos no judô, capitaneado pelo Professor Arruda. Um espaço onde antes de aprendermos a nos defender, aprendíamos brincadeiras que só ali podíamos realizar. Antes de nos exercitar fisicamente, exercitávamos o controle emocional e, por que não dizer, a cidadania que devíamos ter quando crianças e adolescentes. Antes de competir uns com os outros experimentávamos a convivência com todos, quer de nossa idade, quer os mais velhos, quer os mais novos. Antes de vencermos um ao outro, sabíamos que daquele local as rivalidades não podiam prosperar e sair para as ruas, pois ali era o local para que viessem à tona de forma assistida e controlada. Antes de nos superarmos para conseguir nossos objetivos, sabíamos que ali era também um espaço de educação e estávamos aprendendo também a ser cidadãos sob a batuta enérgica do Professor Arruda. Sabíamos que aos vencedores seriam atribuídas as medalhas e aos outros seriam mostradas a forma e a motivação para se conseguir o troféu na próxima competição. Não foi a toa que a seção de Vitória de Santo Antão da Associação Nagai foi uma das mais vitoriosas, rivalizando com as instituições mais eficientes de Recife no esporte. Também era um local que atraia as meninas e isto motivava mais ainda a quem praticava, he he he! (Dei-me muito mal quando estava tentando me mostrar para certa garota. Professor Arruda me catou para uma luta. Passei a maior parte do tempo no ar e no chão. Foi uma tremenda sova. Depois Arruda me mandou pra casa com o moral baixo. Ainda bem que a garota gostou de me ver voando pra lá e pra cá e veio conversar, elevando o que estava baixo – o moral é claro!). AABB – Este local faz sucesso em cada cidade que se instala. Não seria diferente em Vitória e não passaria em branco à nossa geração. Tinha a piscina de 25 metros na qual aprendi a virar peixe, tinha o campo que jogávamos e realizávamos campeonatos. Havia os jogos como Totó e Sinuca e ainda havia um pequeno parque, onde volta e meia estávamos em cima dos brinquedos a... digamos filosofar. Houve o auge para a nossa geração, aonde íamos e nos encontrávamos com todos. Como houve o declínio quando apenas íamos eu e Marcênio para nadar nossos mil metros diários, herança do Professor Iolanda. As instalações da AABB não são as mesmas de hoje, mas não posso dissociar nunca nossa geração daquele antigo espaço lúdico que passávamos tardes agradáveis esperando nossas amigas para vê-las de biquíni. Cedro – Como Sérgio Bessa falou é um dos lugares emblemáticos para nós dois. Para ele porque morava lá e para mim porque ia visitar a ele e a Sandra Wanderley que era sua vizinha. Era uma estação experimental do Instituto de Pesquisas Agropecuárias –IPA, localizada em uma espécie de fazenda, onde eram realizadas diversas pesquisas na área agropecuária. Então se explica o interesse comum entre nossos pais, todos Agrônomos, colegas e amigos. Era um lugar paradisíaco cheio de verde e locais para se perder e explorar. Havia cocheiras e quintais comuns às casas dos Agrônomos residentes. Havia uma vila dos moradores que estavam lotados no IPA auxiliando àquelas pesquisas. Havia uma escola e nela um pequeno campo onde jogávamos e eu exercitava meu mau futebol. Havia também uma espécie de Laboratório, onde as experiências eram realizadas, local que só fui algumas vezes acompanhado de meu pai. O Cedro era sinônimo de vida livre na natureza. Acho que meus amigos sentiram uma grande diferença quando precisaram sair daquele lugar fantástico. DPV – Era uma área na frente do Hospital João Murilo, onde hoje está instalada a CEASA de Vitória. O Departamento de Produção Vegetal é um local que me lembro com muita emoção, pois era o local de trabalho do meu pai. A área era composta por dois prédios, oficinas e a casa do veterinário chefe. Desde que nasci frequentava aquele lugar, meu pai se tornou o responsável pela a área e suas funções, que era a produção e venda de mudas das diversas espécies de cultivares da região. Por isto ele trabalhava integrado com o os pais de Sérgio e Sandra. No DPV morava o veterinário Arivonaldo Torres, grande amigo de meu pai e pai de Luiz Gustavo, colega de meu irmão. Neste espaço aprendi a andar de bicicleta, a soltar fogos, etc. Mas o que Sérgio se referiu e o que foi uma guinada para nós, foi quando, em 1974, meu pai desocupou uma área de estacionamento de máquinas e colocou duas traves. Acho que todos os amigos e colegas foram para lá jogar. Dói muito ver como está diferente o lugar, mas fazer o que? Carnaval – O carnaval de Vitória era um dos melhores do estado. A cidade cultivou a tradição de blocos com carros-alegóricos. Os clubes tinham nomes peculiares, os noturnos eram três: o Clube abanadores "o Leão", o Clube Vassouras "o Camelo e o Cisne, Clube dos Motoristas. Pela manhã saiam mais outros tantos que posso me lembrar: Cebola Quente, a Girafa e o mais novo foi um clube que meu Tio Gilvan foi um dos artífices. Chamava-se a Praça. Para meu universo de guri e para uma cidade do interior do estado, aquilo era nada diferente do extraordinário. A cada ano estas alegorias se tornavam mais fantásticas. Eram escolhidos temas e estes eram trabalhados e montados em um carro que tinha uns 20m de tamanho por uns 4m de largura. Neste espaço a mente do artista projetista se espalhava e as alegorias se erguiam fazendo sucesso perante a população. Nelas iam moças da sociedade fantasiadas de acordo com a história idealizada. Assim começamos a ver nossas colegas integrando o tema destas alegorias. Havia sempre um carro de som que explicava todo o enredo repetidas vezes, dando o nome de todos os envolvidos. Cada ano a população escolhia um melhor e isto nunca chegava realmente a um consenso. Atrás da alegoria vinha uma banda de frevo e o folião escolhia seu clube e pulava de graça em um carnaval mais do que participativo. Posso ouvir ainda o locutor do carro de propaganda a anunciar a atração que estava por vir, criando um suspense por todo o trajeto por onde ele passava. Pela manhã eu fazia meu carnaval. Eu junto com meu irmão, João Batista, Carlos Henrique, Pepe, primos e quem mais quisesse ir nos atirávamos na atividade mais prazerosa para nós na época. Cada um tinha suas bombas feitas com canos de PVC, vara de madeira e borracha para atirar água nos automóveis e nos foliões. Era só festa! O corso rolava a manhã toda e parte da tarde. Cada agremiação destas citadas, mantinham seus bailes noturnos, para uma folia mais seletiva. Tive muitos carnavais obviamente, mas aqueles de minha infância em Vitória estão entre os melhores. São João – Tanto quanto o Carnaval, as festas juninas eram um período muito ansiado por mim durante todo o ano. Minha família era uma entusiasta da festa, principalmente meu pai que se preparava antecipadamente plantando milho para ser vendido e consumido. Minha mãe dava sua exaustiva contribuição fazendo aquelas delícias juninas, como pamonha (sem dúvida a melhor que já comi), a canjica, pé de moleque, bolos de milho, Souza Leão e Pé de moleque. Organizava as festas que enchiam a casa de parentes e amigos. Novamente meu pai entrava em ação, pois diferente de muitos outros ele vibrava com os fogos e as fogueiras, tratando de confeccionar uma na frente de casa durante as vésperas dos três dias dos santos. Mas a sua maior contribuição para o nosso São João era a compra de fogos. Ele comprava para nós e para ele também. Para nós as tradicionais bombinhas aliadas, cobrinhas, os traques maiores, rodinhas e mais alguns que me fogem a memória. O São João pegava fogo mesmo com os fogos que ele comprava para ele mesmo soltar. Eram belos vulcões que soltavam tiros coloridos e suas chamas subiam pelo menos uns 4 metros, comprava também uns tiros que subiam e estouravam 3 vezes no Céu. Comprava uns busca-pés que ele lançava bem longe de nós e assim transformava o nosso São João em um evento inesquecível, até chegar o clímax da festa. Ele adorava balões, claro que nas décadas de 60 e 70 não havia esta consciência dos perigos destes artefatos juninos que tanto nos encantavam. Meu pai soltava balões tão grandes que tinha que subir no muro da nossa casa, com 2 metros de altura. Ele com 1,70 metros tinha que esticar o braço para cima para levantar toda aquela estrutura do chão. Primeiro ele, os amigos e vizinhos abanavam aquela armação para inflá-la. Depois acendiam o pavio e continuavam abanando até que o balão se enchia com ar quente e ficava querendo voar. Nesta altura a rua já estava cheia da meninada da vizinhança. Havia um barbante amarrado na boca onde em sua ponta era atada uma série de estrelinhas que eram acesas quando estava na hora de liberar o balão. Nesta hora meu pai dava um impulso na ponta e alguém empurrava a boca para cima. E o Balão subia no Céu vitoriense em direção às estrelas com os fogos acesos na extremidade inferior, funcionando como uma calda. Esta visão emocionava a todos que estavam acompanhando aquela grande operação. Era uma festa que nos transformava e nos enchia de alegria, com a trilha sonora de muito Forró pé-de-serra, deixando lembranças fortes em nossos cinco sentidos infantis. Festas de final de ano – Era o momento em que já estávamos de férias. A cidade se acalmava e tudo se enfeitava para o Natal. Os Presépios eram montados e as árvores de Natal começavam a brilhar dentro dos lares. A cidade se iluminava e a festa na Praça da Matriz era instalada. O comércio entrava no clima e todas as lojas se enfeitavam e colocavam músicas natalinas para comemorar a data e chamar a freguesia. Lembro-me dos enfeites das árvores de natal que eram tão frágeis que qualquer manuseio os quebrava. Na véspera nos preparávamos e íamos para a casa da minha avó Davina na Rua do Meio. Lá já estavam as minhas primas e primos e todos faziam a grande ceia. Antes aproveitávamos a festa da Praça, com seus brinquedos e guloseimas. No dia seguinte estávamos mostrando nossos presentes a todos e o Natal continuava. O grande atrativo era o clima natalino em uma cidade de interior que fazia desta época uma época tão especial. Uma semana depois era a vez das comemorações do final do ano e novamente todos se reuniam na Rua do Meio. Na hora da passagem o último minuto do ano era passado todo no escuro, pois a Prefeitura mandava desligar as luzes da cidade. Realmente sentíamos pelo rimbombar dos fogos, que o ano estava a passar na cidade escura. E quando as luzes se acendiam era como se a vida recomeçasse com novas esperanças e perspectivas. Naquela época eu não queria passar aquele momento em lugar nenhum que não fosse ali, na casa dos meus avôs na Rua do Meio em Vitória de Santo Antão. 55. Vitória - Dezembro/1977 - Chegou o último dia nesta cidade enternecida. Parti primeiro que meus familiares, pois iria iniciar um curso de Matemática promovido pelo Colégio Salesiano em Recife, que tinha o intuito de nivelar os novos alunos. Não vi minha casa bagunçada para a mudança, então a imagem que carrego é dela como sempre meus pais a conservaram. O ato de escovar os dentes naquele dia já me fez imaginar que era a última vez que eu o faria ali naquela casa querida. Sai do banheiro e um raio de sol atravessava o vidro da porta do corredor e batia nas paredes amarelas, dando esta cor às minhas últimas luminosas lembranças daqueles espaços. Tinha uma sensação que me despedia não de uma casa, mas de um ser vivo, uma entidade, embora soubesse que tudo ali iria comigo para o Recife. Os móveis iriam fisicamente. A garagem, o quintal, meu quarto, o jardim iriam no espaço bem amplo reservado no meu coração. O imenso espaço que coloquei a cidade e todas as suas lembranças. Atualmente resta muito pouco da parte física de minha casa. Alguns pratos, copos, talheres, fotografias, alguns objetos de decoração, tudo guardado na casa da minha mãe. Posso vê-los em jantares onde ainda teimam em aparecer. Mas aquilo que guardei em meu coração está intacto e pulsando. De vez em quando aparecem na minha frente, com toda a carga de emoções que deles demanda, chamando por amigos, primos, avos, pai e todos os que estão presentes neste universo vivo de lembranças. Como agora, quando me dominaram totalmente ao escrever este texto. Não vejo como fazer um balanço pessimista de uma vida que teve um início como este. Acho que realmente levamos vantagens perante os colegas e amigos que fizemos em Recife, pois estes têm a infância como apenas uma continuidade de suas vidas. Não a veem como um período mágico como o nosso, simples assim. Pautei o direcionamento da minha vida diferente daquilo que ouvia e mais em cima do que acreditava. Nunca busquei ficar rico (fui até displicente nisto), fui atrás de uma profissão que amava e que me realizou plenamente. Esta realização não veio de forma simples, como nada vem na vida. Tive que aceitar muitos desafios quase que imponderáveis e que outros regatearam. Acho que nunca vou estar plenamente seguro na engenharia, pois diariamente ela impõe novas situações limites, por mais preparado que se esteja. Talvez isto seja o grande atrativo que me puxa para ela e me segura, impedindo que arranje um cargo burocrático menos extenuante e com mais qualidade de vida. Talvez a leve comigo até o fim, pois essa foi a sina de quase todos os irrequietos que ingressaram nesta profissão, incluindo meus dois tios que não a abandonaram um só dia até nos deixarem. Ou quem sabe ganhe na Mega Sena e esqueça isto tudo, he he he! Mantenho um casamento com muito amor e bom humor e claro, altos e baixos como todas as uniões. Minha esposa me aceita maaais ou meeenos do jeito que sou e aceita as agruras que a minha profissão impõe. Só isto já dá um handicap para que ela seja quase canonizada em vida. Ficam faltando os milagres, mas acredito que ela ainda chega lá. Temos um filho que também é uma força da natureza e me faz rever constantemente minhas razões e ponderações, fazendo-me ora mais razoável, ora mais impositivo, dependendo da situação. Às vezes acho que estou lidando com um espelho, e às vezes com um estranho, o que não deixa de ser interessante. Vivo hoje afogado em livros, pois este é o meu passatempo predileto. O segundo é o que estou fazendo agora, quando sujo este papel, ou a sua tela de computador com estas palavras. Estou me obrigando a ter outros mais, como correr pela manhã. Espero chegar a correr os 5km diários que prometi ao meu cardiologista. Até agora ainda não passei dos 2km, os outros três faço andando. Decidi enfrentar este texto quando, na festa de Sandra, senti o elo que unia aquelas pessoas que viveram aquele tempo. Fui abraçado e beijado por Sérgio, Sandra e Carlos Henrique e senti a emoção de cada um deles expressada nas palavras de Sandra: “As esposas têm que entender...” É claro que têm que entender, cara amiga e entenderam não se preocupe. Este texto vai como um presente. Um presente aos amigos e contemporâneos que me ajudaram a ter tantas e belas lembranças. Sei que presente se dá esperando que as pessoas gostem, mas pode acontecer o contrario. Reconheço que deixei escapar muitos fatos e pessoas que deveriam estar aqui. Mesmo assim valeu o esforço. A diversão foi muito boa. Fernando Melo, 16 de Março A motivação veio quando participei da incrível comemoração de minha bela amiga Sandra Wanderley. Ela, num gesto de generosidade, boa vontade e alegria, quis compartilhar sua nova idade com os amigos que foram os seus mais chegados durante a vida até aqui. Principalmente aqueles de sua mais tenra idade. Por isto acabou oferecendo um presente a todos, nos proporcionado uma noite de contentamento e memoráveis reencontros. Com apoio de sua inseparável amiga Maria Augusta (Maninha), prepararam tudo para que nos situássemos na década de 70, principalmente com uma trilha sonora turbinada de sucessos que iam dos The Mamas and the Papas aos Beatles, passando pelos inusitados Monkeys (saudades do seriado que era transmitido às tardes na TV), Bee Gees e etc. Os The Fevers, a Tropicália, a Jovem Guarda e a consequente MPB produzida na época, eram alguns dos conjuntos e/ou movimentos que davam o tom nacional à festa (nada como o The Fevers para me transportar a Vitória de Santo Antão nos anos 70). Tudo isto foi-nos ofertado em dois CDs com as trilhas nacional e internacional para que babássemos e nos lembrássemos do acontecimento por muito tempo. Reencontros com amigos e amigas me fizeram concluir: com o tempo os amigos ficaram mais interessantes com o amadurecimento e a troca de experiências de vida. Quanto às mulheres, sem querer ser o galanteador que nunca fui estas ficaram mais interessantes tanto pelas próprias razões anteriores, quanto pela beleza de cada uma, que com o passar do tempo a maturidade as fez brilhar ainda mais (meninas, ruguinhas não contam, nem são importantes. As que teimam em aparecer não devem ser levadas tão a sério). Acho que o fundamental desta nossa história é a possibilidade da felicidade. Não que ela seja obrigatória, mas se a conseguirmos, com certeza ela nunca será eterna. Invariavelmente temos a tendência a achar que fomos felizes em algum momento do passado, pois passamos por tantas na atualidade, que o que passou foi um tempo extremamente feliz para nós. Escrevi uma crônica sobre o meu passado e a publiquei em um blog que mantinha quando estava em Angola. Entre 2005 e 2008 trabalhava na reestruturação do país após os 30 anos de conflitos. Era um texto que tratava de uma visita a uma obra, no meio deste país, que havia sido executada por antigos companheiros meus há 25 anos. Na parede da barragem (era uma hidroelétrica) comecei a divagar comparando o momento que me encontrava com a época próxima à minha formatura quando trabalhava com este pessoal. Eu relatei os questionamentos que o estudante de engenharia fazia e as respostas que o engenheiro, 20 anos depois, proporcionava depois que tudo havia acontecido. Tudo entranhado na mesma pessoa. Achei a experiência incrível. Lembrar-se de situações tão remotas que tinham ligações com o presente. Quando cheguei à Luanda rememorando esta experiência, percebi que se aquilo foi tão distante no tempo, onde estariam as sensações da minha infância, onde estariam as sensações de Vitória de Santo Antão? Na minha cabeça minha infância em Vitória acabara de sair do plano da realidade para entrar em algo além do tempo e da felicidade. Algo perto da magia, do agora intangível, de alguma coisa que temos que às vezes procurar nas lacunas dos sonhos e do imaginário. Será que aquilo tudo existiu mesmo? É claro que vocês devem estar pensando "Este pirou, interna!". Mas respondam, quantos sonhos nós já tivemos com aquela época? Além que sonhos tive pesadelos. Sonhei com a minha antiga casa e ela estava vazia, sem móveis. Eu estava nela à noite e sozinho. Andava por todos os cômodos, como um espectro à procura de familiares sem ter sucesso. Tive sonhos com amigos, amigas, com o Colégio, com a cidade. Algumas pessoas que já se foram e estavam ali, em pontos estratégicos. E pelo visto não sou só eu que sonho assim! Claramente meu amigo/irmão Sérgio Chianca se declarou um exímio sonhador quando lhe enviei esta foto em julho do ano passado (2013).
Ele imediatamente a publicou no Facebook e seu texto, que acompanhava a imagem, foi avassalador, digno de um grande sonhador e mágico das emoções: “Amigos de verdade! Fernando Melo e Alexandre Melo. Com esses dois passei grande parte da minha inesquecível infância. Cedro, DPV, Bola na garagem, Nossa Senhora das Graças. Dei trabalho pra caramba, D.Vininha que diga. Eita tempo maravilhoso que não sai da minha cabeça! Grande abraço meus irmãos, que Deus ilumine seus caminhos sempre.” Logo outros sonhadores vieram se juntar a imagem conhecida e ao texto que os transportava àquela época querida representada nesta foto.
Encontrei Maria Augusta, Sandra, Arthur, Ana Cristina, Alexandre, Nuna... todos curtindo e mandando seus comentários ( bombou na web, he he he!). Com isto podemos dizer "Saímos de Vitória, mas Vitória não saiu de nós". E acho que nunca sairá. Deixando de colocar palavras na boca dos outros, acho que a sensação da mágica surgiu a partir do momento que verifiquei que aquele mundo das décadas de 60 e 70 ficou irremediavelmente para trás. O mundo hoje é pragmático demais. Não há espaço para a poesia, a fantasia e o espírito livre daqueles anos (nestes tempos não há mais espaço para hippies), apesar de vivermos uma ditadura naqueles tempos. Foram também anos de chumbo no Brasil. Também os anos pesaram para a América Latina, a Ásia e outros lugares do Mundo, enquanto a Europa caminhava para ares mais libertários a partir de 1968 com a revolta dos estudantes na França. Mesmo assim ficou ameaçada por grupos terroristas que não cansavam de fazer ações cada vez mais espetaculares. Para nós, criança daqueles tempos era difícil visualizar o que ocorria mundo afora. Vejamos a sequência dos grandes fatos deste período, para nós, para o Brasil e para o Mundo: 1. Assassinato de Kennedy - Novembro/1963 - O grande evento mundial no início de nossas vidas. Não teve qualquer interferência em nós, pois éramos bebês, ou alguns nem haviam nascido. Podemos entretanto imaginar a comoção no planeta e em nossos pais logo em nosso primeiro ano. 2.Antes disso, ainda em 1963 os Beatles gravaram o primeiro álbum Please Please me e chegaram pela primeira vez às paradas de sucesso britânicas. Fato importantíssimo para nós futuros aficionados. 3.Golpe militar - Março/1964 - Também sem a mínima interferência em nós naquele momento, tínhamos apenas 1 ano ou próximo disto. Mas dá para notar que somos verdadeiros "filhotes da ditadura", como falava o Brizola. Acho que a insegurança bateu em cheio na população com a democracia se esvaindo da vida cotidiana e o autoritarismo ocupando seu lugar. 4. Os Estados Unidos entram na guerra do Vietnam - Fevereiro/1965 - Este fato é importante, pois esta foi a primeira guerra transmitida em cores. A situação dos soldados, as atrocidades cometidas, bem como o resultado final da guerra influenciaram na cultura Pop daí pra frente. O conflito começou em 1959 e se arrastou pelo restante da década de 60 e metade da década de 70. Assim tivemos bastante contato com ele através de revistas e jornais televisivos (é emblemática a foto da menina vietnamita nua, correndo e chorando após um bombardeio com bombas Napalm). Depois vieram os filmes (dezenas) e livros (centenas). 5. Realização da VIII Copa do Mundo de Futebol, na Inglaterra. Junho/1966 - Campeão: Inglaterra. O Brasil já era bicampeão e estava disputando o tricampeonato. Saiu logo na primeira fase, eliminado por Portugal, com Pelé machucado. Não fomos felizes em nossa primeira Copa do Mundo. Será que éramos péfrio? Nós, felizmente, nem percebemos este malsucedido campeonato. 6. Lançamento do livro Cem anos de Solidão de Gabriel Garcia Marques - Maio/1967 - Pode não ser um acontecimento de impacto mundial, mas para mim foi. Acho um dos livros mais fantásticos que já li. O livro vendeu 8 milhões de cópias nas primeiras duas semanas. Fica a dica para quem ainda não teve este prazer. Neste mês o grupo inglês Pink Floyd faz seu primeiro concerto no Queen Elizabeth Hall em Londres, marcando sua fundação. 7. Guerra dos Seis Dias - Junho/1967 - foi um conflito armado que opôs Israel a uma frente de países árabes - Egito, Jordânia e Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão. As Colinas de Golam, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia tornaram-se alvos dessas batalhas e estes nomes frequentavam diariamente a nossa casa através da televisão. Daí pra frente o caldo do Oriente Médio, que já não estava frio, esquentou de vez e está fervendo até hoje. O ano de 1968 foi denominado pelo jornalista Zuenir Ventura como "O ano que não acabou" tal a quantidade de acontecimentos a nível nacional e internacional que mudaram e continuaram mudando o Brasil e o Mundo. Vou apenas citar os que para mim são mais influentes: 8. Fevereiro – Nossa turma se encontra no Jardim da Infância Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Professora Elzita, localizado no bairro do Livramento, Vitória de Santo Antão. Desse grupo faziam parte Carlos Henrique Bacelar, Gustavo Ferrer, Sérgio Chianca, Sandra Wanderley e eu, além de outros é claro. 9. Abril - O Líder negro e Prêmio Nobel da Paz de 1964, Martin Luther King é assassinado a tiros em Memphis, EUA, aos 39 anos de idade. Seu assassino foi um segregacionista do sul dos Estados Unidos. 10. Maio - A Revolução de Maio de 68 é iniciada por estudantes da Universidade de Paris e ocorre uma greve geral na França. Este fato influenciou boa parte do mundo ocidental, incluindo o Brasil. Foi onde surgiu o lema "É proibido proibir". 11. Junho - Robert Kennedy é assassinado a tiros no Hotel Ambassador em Los Angeles, na Califórnia. 12. Junho - Passeata dos 100 mil pelas ruas do centro do Rio de Janeiro contra a violência do governo, protestos são vistos por todo o Brasil. 13. Agosto - Tropas da União Soviética invadem a Tchecoslováquia colocando fim a Primavera de Praga, período de liberalização política na Tchecoslováquia durante a época de sua dominação pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. 14. Dezembro- AI-5 é editado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Costa e Silva, fechando o Congresso Nacional gerando caos no país. Os cidadãos brasileiros perderam seus direitos individuais. 15. É lançado o disco Led Zeppelin – Janeiro/1969 – Este lançamento oficializa a fundação do grupo. 16. O Homem chega à Lua – Junho/1969 - Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua, como comandante da missão Apollo 11. Apesar de ter 6 anos na época, tenho lembrança perfeita deste fato e das emoções que foram causadas ao meu redor. Todas as etapas desta jornada foram acompanhadas ao vivo, pela televisão, pelos poucos que possuíam esta regalia. Meu pai organizava reuniões com os amigos para ver as etapas desta odisseia que passava na TV. Eu ia junto. 17. Festival de Woodstock - Agosto/1969 - Aconteceu em uma fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade rural de Bethel, no estado de Nova York, Estados Unidos. Considerado o maior festival de rock de todos os tempos. Para os meus 6 anos este evento não teve a mínima importância. No futuro, porém fiquei aficionado pela mística do festival apesar de ser fã apenas do The Who e de Jimi Hendrix, principais músicos deste evento. 18. Doutores do ABC – Dezembro/ 1969 – Conseguimos este fantástico título com direito a anel de outo, missa para benzer os anéis e formatura no Clube Vassouras “O Camelo”. Na cerimônia entramos com beca branca e padrinho a tiracolo (a minha madrinha teve que ser substituída devido ao excesso de choro). 19. Nosso primeiro dia de aulas nas Escolas Reunidas Nossa Senhora do Rosário, primeira série primária - Fevereiro/1970 - A professora chamava-se Bininha e eu estava todo orgulhoso, pois aquela igreja, que virou escola, também havia educado meu pai. Além deste orgulho havia uma alta dose de frustação, pois naquela manhã do primeiro dia eu soube que meu grande amigo CarlosHenrique Bacelar havia pulado a série e em vez de estudar conosco à tarde, ele estudaria pela manhã com a profa. Lenira Macêdo, professora da segunda série. Esta frustação só veio melhorar quando conheci meus novos amigos, Maria do Carmo Portela (Carminha), Marcênio Chaves, Jorge Khouri e Anderson Gomes (Déu). Este ano começou também com uma outra notícia sobre perdas. Esta bem pior que a de Carlos Henrique, pois este fora para outra série, mas eu o veria sempre devido ele morar no mesmo bairro. Meu amigo de primeira hora João Batista Moura iria morar em Carpina. Seu pai se transferira para lá. Então nossas brincadeiras de empinar papagaio, jogar futebol, correr de nossos cachorros, jogar bolinha de gude e muitas outras ficariam órfãs também. Perderia meu companheiro de fogos de São João, de banhos de carnaval (nos outros e em nós também) e de bandido e mocinho. Esta foi a minha primeira experiência de ausência e bastante dolorida. 20. Paul Mcartney anuncia o fim dos Beatles – Abril/1970 – Esta triste notícia foi divulgada a revelia de John Lennon. Em Outubro de 1970 foi formado o Grupo Queen. Duas notícias fundamentais para mim, mesmo que sejam em épocas futuras. 21. Copa do Mundo do México - Junho/1970 - O Brasil vence a Itália por 4x1 e é o tricampeão do Mundial. Agora sim afugentamos o estigma de pé frios e na primeira Copa que nós nos entendíamos como gente, vimos um time mágico que tinha “a sutileza de Tostão, a exuberância de Jairzinho, a fúria alegre de Rivelino, o gênio felino de Pelé, a mente sinfônica de Gérson” (segundo John Carlin – escritor e Jornalista inglês). Este time iria mudar o futebol mundial com o seu jogo bonito e de objetivos, que hoje inspira europeus, como Pepe Guardiola, técnico do Bayer de Munique. Eram tempos em que eu, do alto de minha sabedoria dos sete anos incompletos, me excitava mais com a vibração dos gols do que com o jogo em si, pois achava que aquilo era normal, visto que tínhamos mágicos em campo e mágicos fazem mágicas. O time brasileiro então não poderia perder. Estranho aquela vibração toda! 22. Jimi Hendrix - Setembro/1970 - morre em Londres, dia 18, aquele que é considerado o maior guitarrista do Rock. 23. Rio de Janeiro/1972 – Este foi um dos momentos mais esfuziantes da minha infância. Neste mês eu minha mãe e meu irmão Alexandre fomos conhecer o Rio de Janeiro. Meu tio Waldir morava lá e eu fui encontrar meus primos que já haviam estado aqui. Imagine o que é para uma criança nordestina conhecer as terras cariocas. Foi algo equiparado a ir a Terra do Nunca e visitar Peter Pan, Wendy e os meninos perdidos. No Aeroporto pegamos o pó de Pirlim-pim-pim da fada Varig e voamos para o Aeroporto de Santos Dumont que ficava na Terra do Nunca, óbvio! Aquele mundo que eu só via na televisão, de repente começou a ser real. Todas as atrações turísticas foram visitadas. Entramos no mundo da realeza do Brasil, que eu estava acostumado apenas nos livros de História. Os palácios da Quinta da Boa Vista e de Petrópolis me encheram os olhos infantis. Aquela viagem ficou na minha cabeça por uns bons anos. 24. Colégio N. S. da Graça -terceira série – Fevereiro/1972 – Este momento foi um divisor de águas em nossas curtas vidas. Saímos do espaço diminuto da sala da Igreja do Rosário para o universo amplo do Colégio. Apesar de tudo ser vantajoso, isto não se apresentou desta forma nos primeiros momentos. A princípio perdemos amigos imprescindíveis como Marcênio, Carminha e Déu que continuaram na Escola do Rosário. Outra razão era que o Colégio ainda mantinha certa filosofia atrasada de separação dos sexos. Ou seja, fomos para uma sala cuja predominância era de meninos (havia 5 meninas retardatárias na matrícula). Dizendo melhor perdemos os amigos e as meninas, que foram colocadas em uma sala só delas. Apesar das desvantagens aparentes, aos poucos fomos percebendo os lucros da troca de escola. Nós podíamos correr o mais que quiséssemos que havia espaço. Podíamos jogar futebol, pois além da quadra os locais para pelada não faltavam. Havia um parque com brinquedos, que nos era liberado uma vez por mês durante o recreio. Quanto às meninas, Sandra foi colocada na sala feminina junto com Eliane Mariano, Fátima Alvares, as gêmeas Yara Jane e Aparecida, Aparecida Alvares, Sabrina Connoly, entre outras. Ficamos separados delas até os festejos juninos, quando as classes se misturaram e cada um arranjou seu par para as danças da festa. Daí em diante a vida foi diferente, pois entraram em cena as paqueras, os namoricos, as paixões platônicas e as desilusões. E viva esta época! 25. Olimpíadas de Munique - Setembro/1972 - Em 5 de setembro de 1972, oito terroristas do grupo palestino Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica de Munique e ocuparam os apartamentos da delegação israelense. Dois atletas foram assassinados na hora. Outros nove foram mantidos reféns. Os terroristas exigiam a libertação de mais de 200 prisioneiros palestinos por Israel, que rejeitou a troca. Horas depois, os reféns foram levados ao Aeroporto Fürstenfeldbruck, onde os alemães prometiam fornecer um avião para a fuga dos palestinos. Era uma armadilha para tentar resgatar os israelenses. A operação foi um fracasso e todos os reféns foram mortos, além de um soldado alemão e cinco terroristas. Os Jogos Olímpicos foram interrompidos por um dia para as cerimônias fúnebres em honra aos atletas. Assim os Jogos ficaram marcados pelas façanhas do nadador americano Mark Spitz, que conseguiu o recorde de 7 medalhas de ouro e por esta tragédia. Lembro-me de algumas fotos nas revistas da época (inclusive da emblemática e horripilante imagem do terrorista do Setembro Negro encapuzado na sacada do prédio 31 da Vila Olímpica). Claro que, devido a nossa idade, não participamos da comoção mundial que um fato como este provocou. 26. Emerson Fittipaldi – Setembro/1972 – Em 10 de Setembro de 1972 em Monza na Itália o Brasil passa a elite das corridas de Fórmula 1, com Emerson Fittipaldi ganhando a prova e sagrando-se o primeiro campeão mundial brasileiro e o mais jovem (com 25 anos). Ganhou o campeonato com duas provas de antecipação. Lembro-me que neste dia meu pai sintonizou no rádio do carro uma transmissão esfuziante desta vitória, que elevava ainda mais o nosso orgulho. Emerson e sua incrível Lotus preta viraram um pôster no meu quarto e ele passou a ser cultuado por todos os meninos como herói. Depois de muitos anos eu soube que aquela transmissão era feita pelo próprio pai de Emerson, que era jornalista e narrava a vitória do filho. 27. Uma década – Fevereiro/1973 – Neste ano ingressamos na quarta série primária e completamos 10 anos de vida. Estávamos felizes no Colégio N. S. da Graça, com a professora Socorro Barreto e a classe parada dura. Neste ano nosso amigo Marcênio Chaves ingressou no Colégio, sendo mais uma alma singela a tocar fogo no recreio he he he he! 28. Chile - Setembro/1973 - O Golpe de Estado de 11 de Setembro, ocorrido no Chile em 1973, consistiu na derrubada do regime democrático constitucional do Chile, e da morte de seu presidente Salvador Allende, que se suicidou. Foi articulado conjuntamente por oficiais agitadores da marinha e do exército chileno, com apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos, bem como de organizações terroristas chilenas, tendo sido encabeçado pelo general Augusto Pinochet, que se proclamou presidente. 29. A Guerra do Yom Kippur - Outubro/1973 - Conflito militar ocorrido de 6 de Outubro a 26 de Outubro de 1973, entre uma coalizão de estados árabes liderados por Egito e Síria contra Israel. O episódio começou com um contra-ataque inesperado do Egito e Síria. Coincidindo com o dia do feriado judaico Yom Kippur. Egito e Síria cruzaram as linhas de cessar-fogo no Sinai e nas Colinas de Golan, respectivamente, as que foram capturadas por Israel em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias. Israel se recupera depois de duas semanas de luta e invade a Síria e o Egito. A guerra foi contida por um cessar fogo imposto pela ONU. A consequência mais importante para nós foi que nossos pais começaram a reclamar cada vez mais do preço da gasolina, pois os países árabes retaliaram o resultado adverso com a criação de uma frente de países árabes produtores de petróleo, que aumentava constantemente o preço do combustível. 30. Edifício Joelma - Fevereiro/1974 - Este é um dos tópicos difíceis de escrever, pois se trata de uma das lembranças mais terríveis do período infância e pré-adolescência. Lembro-me de ser uma sexta o 1o. de Fevereiro e havíamos ido ao Cedro para passar uma daquelas manhãs aprazíveis (jogar bola, brincar com Sérgio, Sandra e a turma, visitar as cocheiras etc.). À tarde, viajamos para Recife a fim de passarmos o final de semana com a minha avó Belinha. Durante todo o dia já se sabia que estava acontecendo em São Paulo, pois a televisão não parava de fornecer flashes do Edifício envolto em chamas. Quando meu pai ligou a televisão para assistir ao Jornal Nacional, toda a história foi narrada e mostrada com riqueza de detalhes. Ao todo 191 pessoas morreram e 345 ficaram feridas. Dos mortos 22 pularam do edifício em desespero. Estas cenas ficaram gravadas em minha memória e na época passei diversas noites sem dormir, impressionado com aquilo tudo. Depois vieram as revistas com fotos detalhadas que renovaram meus sentimentos em relação àquela tragédia. Foi um período muito triste realmente. O Edifício Joelma foi rebatizado como Edifício Praça da Bandeira, mas as histórias de eventos sobrenaturais e espíritos vagando por seus andares e estacionamentos, nunca abandonaram a edificação. 31. Ginásio - Fevereiro/1974 - Encaramos nossa pré-adolescência, que se formalizava com a entrada na 5a série. Neste ano tudo mudou. Fomos colocados na mesma classe das nossas amigas Sandra, Fátima, Aparecida, Eliane etc. Houve também a vinda de Carminha e Déu que estavam na escola do Rosário e se juntaram novamente ao grupo. Chegou também, vindo de Carpina, João Batista Moura, outro amigo/irmão. Este me fazia falta desde 1970 quando sua família se mudou. Recebemos o período ginasial com um certo impacto, pois aquele ano parecia ser de maior responsabilidade, haja vista a troca de professores a cada matéria e o medo que Carlos Henrique nos fazia, pois ele sempre estava um ano à frente. Mas, para nós, a interação com as amigas na classe foi muito mais importante do que o medo das matérias. Continuávamos felizes naquele ambiente e um pouco mais maduros. 32. Copa do Mundo de Futebol - Junho/1974 - Realizada na Alemanha. Nesta Copa eu esperava sentir as sensações que senti em 1970. A Seleção Brasileira era formada por um time com alguns remanescente da antiga e gloriosa seleção de 70 e uma maioria renovada de craques. Este time sem muito liga foi empatando e ganhando sem convencer muito a torcida que estava acostumada a vitórias e glórias dos anos anteriores. Demos de cara com um tal "Carrossel Holandês" cujo comandante Johan Cruijff sabia até onde iria levar a sua seleção. Em seus planos não estava perder do Brasil na semifinal. Perdemos por 2 a 0 e eu entendi que a Copa do Mundo não era um evento feito exclusivamente para que o Brasil fosse campeão. Havia outras seleções tão boas quanto a nossa, como a da Alemanha que ganhou o campeonato, surpreendendo a todos os que já contavam com a Holanda de Cruijff campeã. Ficamos com a 4ª colocação, pois ainda perdemos da Polônia por 1 a 0 na disputa do terceiro lugar. O pior é que fiquei aprendendo esta lição por muito tempo. Vinte anos mais... 33. Nixon - Agosto/1974 - Em 9 de agosto o Presidente Nixon renuncia à Presidência dos Estados Unidos após o escândalo de Watergate. Este escândalo consistiu na descoberta que dois jornalistas do Washigton Post fizeram de fatos ocorridos na campanha eleitoral para a Presidência, em 1972. Os escritórios do Partido Democrata, no complexo de prédios chamado Watergate, haviam sido invadidos e os documentos lá existentes, foram fotografados ou roubados. Após intensas investigações os jornalistas chegaram à conclusão de que era gente do partido Republicano e que o Presidente sabia de tudo. Lembro-me deste dia, pois a agitação nos telejornais foi bastante intensa e principalmente lembro da resposta do meu pai quando perguntei sobre o que estava acontecendo - "O presidente dos Estados Unidos renunciou". 34. Emerson Fittipaldi – Outubro/1974 - Novamente o grande Emerson Fittipaldi sagra-se campeão Mundial de Fórmula 1 no dia 6 de Outubro de 1974 na corrida de Whatkins Glen nos Estados Unidos. Ele terminou em 4º lugar, o suficiente para se distanciar de Jody Scheckter, piloto Sul-africano com quem disputava no final da temporada. Não houve uma grande comemoração neste dia, pois aconteceu um fato triste que resultou na morte do piloto austríaco Helmuth Koiningg. Ele escapou na 2ª curva, no início da prova, batendo em uma mureta metálica e sendo por ela decapitado. Com esta conquista Emerson lavava assim a minha alma e a de muitos brasileiros, tão machucada pela perda da Copa. Troquei o pôster de Emerson, no meu quarto, por um novo de bicampeão e com a McLaren vermelha e branca. 35. 6ª série - Fevereiro/1975 - Demos início a mais um ano letivo no Colégio N. S. da Graça e este ano foi um pouco diferente, a professora de Geografia era a mesma irmã Perpétua que ensinava Matemática (por incrível que pareça, nos fez gostar de pesquisar os estados brasileiros). Fui expulso da aula de Português pela professora Jadenise, o que fez eu dar um rolé sozinho nos corredores, escapando da irmã Anunciação, que era a bedel do Colégio na época. No mais foi um ano estimulante e cheio de possibilidades. 36. Microsoft - Abril/1975 - Em 4 de Abril Bill Gates e Paul Allen fundam a Microsoft. Este fato isolado não teve nenhuma repercursão de momento em nossa turma, nem em lugar nenhum inclusive, mas como sabemos, é bastante relevante no futuro. Nós como uma geração flexível tivemos que nos adaptar à tecnologia que nunca tivemos com que nos preocupar em nossa infância. Saímos do pião, do papagaio e das bonecas e bolinhas de gude para o mundo de computadores e Internet. O Mundo só teve a ganhar com este simples evento ocorrido neste dia. 37.Saigon, Vietnam - Abril/1975 - Vitória do Vietnam do Norte sobre o Vietnam do Sul. Os Estados Unidos saem da guerra numa retirada que ficou memorável, com a sua embaixada invadida por sul-vietnamitas que desejavam fugir das tropas vietcongs. Em 30 de Abril de 1975 foi criada a República Socialista do Vietnam, pondo fim a 20 anos de conflitos. Lembro de uma reportagem onde aparecia um tanque derrubando o portão do Palácio do Governo do Vietnam. 38. Macondo, Colômbia - Abril/1975 - José Arcádio cursava o 6º ano no Colégio N. S. do Desterro. Era véspera da primeira prova de Matemática do ano, matéria lecionada pela irmã Clemência que impunha uma ansiedade genuína na turma devido a sua rigidez durante as aulas. Assim ele reuniu à noite suas belas amigas Fernanda, Úrsula e Rebeca e mais seu amigão Maurício para que todos juntos recebessem orientações de seu pai. Sr. Buendia resolvia exercícios e tirava as dúvidas de todos. José Arcádio percebeu que antes dos estudos as garotas olharam o jardim de sua casa e ficaram impressionadas com a quantidade e a qualidade das rosas que seus pais cultivavam. No dia seguinte José Arcádio foi cedo ao jardim e colheu três rosas. Uma branca com as bordas das pétalas azuis, linda e bastante delicada. Outra rosa vermelho-sangue, recém-saída da fase de botão, admirável e com uma personalidade forte e significativa. E a última de cor amarelo-alaranjada que por sua beleza e tênue contraste das cores possuía uma realeza particular, quase imperiosa. Ao chegar ao colégio, antes de começar a prova, José Arcádio deu uma rosa a cada colega. A branca ele entregou a Fernanda, a vermelha a Rebeca e a amarelo alaranjada ofereceu a Úrsula. Elas agradeceram e como não eram de se derramar em sentimentos, José Arcádio intuiu que o presente agradara pelos brilhos nos olhos de cada uma. Fizeram a prova e ao terminarem, José Arcádio percebeu uma confusão no meio da sala. Só ouvia a voz de Aureliano, que era seu amigo/irmão, comandando uma reação da turma direcionada a Rebeca. Tinha a ver com a rosa que ele lhe dera. Aureliano, que era um líder nato, estava fustigando os colegas a perturbarem a pobre da garota. Rebeca não estava gostando nem um pouco da brincadeira e reagia contra as estripulias de Aureliano, que era arteiro. Este vendo que Rebeca estava nas últimas, aumentou a intensidade da brincadeira até que... ela jogou o que estava mais perto no colega bagunceiro. A rosa bateu no peito de Aureliano, que era instigado, e caiu no chão. Aureliano, que era levado, correu para José Arcádio gritando "José, José, Rebeca jogou a rosa no chão." José Arcádio que até então só ouvira o murmúrio dos colegas viu a rosa vermelha, cheia de personalidade, gritando no chão. Rebeca então atendeu aos apelos da rosa, pegou-a e a colocou na banqueta. José Arcádio então perguntou "Rebeca, você jogou a rosa no chão?" Ao que a garota respondeu, com a paciência no limite, "Joguei na cara dele, pois ele estava me abusando" e apontou para Aureliano, que era virado e estava contendo o riso. José Arcádio não gostou da resposta, voltou para o seu lugar, aguentou todas as provocações da turma e não falou mais nada com Rebeca. Como era bobo este José Arcádio. Isto tudo pode não ter acontecido assim. Pode o lugar não ter sido este. Podem as pessoas nem ter sido estas. Podem estes fatos ainda nem terem acontecido e ser tudo fruto da imaginação popular, mas... vale o registro, he he he! 39. Vladimir Herzog – Outubro/1975 – Morre nas dependências do DOI/CODI em São Paulo, vítima de torturas, o Jornalista e dramaturgo Vladimir Herzog em 25 de Outubro. A foto forjada de seu enforcamento em uma janela com a metade de sua altura correu o país e o Mundo, escancarando de vez a ditadura. A partir daí estas ações foram coibidas pela alta cúpula militar dando início ao processo de abertura política no Brasil. 40. Angola - Novembro/1975 - Diferente da Independência de Moçambique, que o Brasil foi o último a reconhecer, esperando o reconhecimento de Portugal, o Presidente Geisel mandou seu chanceler ficar prevenido e atento para ser o primeiro a reconhecer a Independência de Angola. Esta se deu em 11 de Novembro de 1975, quando Agostinho Neto fez seu discurso declarando o país livre do domínio Português, tornando-se seu primeiro presidente. Infelizmente os partidos políticos que lutaram unidos para que o país conseguisse ser livre, imediatamente entraram em uma sangrenta guerra civil, uns contra os outros, que durou 30 anos, só terminando com a morte do líder da UNITA Jonas Savimbi, que fazia oposição ao Governo do MPLA. Isto ocorreu em 22 de Fevereiro de 2002. Sempre vi pelo jornal as movimentações, tanto da guerra colonial, quanto da guerra civil. O nome UNITA não era estranho para mim e as imagens em preto e branco do Jornal Nacional sempre mostravam os avanços destes conflitos. Eram lembranças tênues de um adolescente que estava vendo a televisão, mas não estava nem aí para o que estava sendo mostrado, nem entendendo nada do que se passava. Mal sabia eu que aquilo tudo seria vivenciado por mim décadas depois, quando viajei o país de norte a sul como um dos engenheiros designados para conceber e trabalhar a reconstrução de Angola (leia em “Crônicas de Luanda” www.fafm86@blogspot.com). 41. 7ª Série – Fevereiro/1976 – Este é um ano que vive sempre fervilhando em minha memória. Porque? Não há muita razão para responder e há. Foi um ano particularmente feliz para mim. Não sei se pela viagem que fiz com minha família pelo sul do país no meio do ano, não sei se pela própria evolução da adolescência, com os hormônios em ebulição, perturbando sentimentos e ações, mas as grandes recordações estão mesmo é dentro de uma sala bastante arejada do Colégio. Esta sala voltava-se para a quadra e nela a interação da turma se aprofundou muito. Era o terceiro ano que estávamos todos juntos. As meninas que ganhavam a maturidade mais cedo, ficavam dia-a-dia mais bonitas e pior, estavam se distanciando emocionalmente de nós. Tivemos que resolver este problema cada um à sua maneira, uns namorando meninas mais novas, poucos namorando meninas mais velhas e a maioria assumindo a perda e pronto. Sem querer ser muito "Caxias", o que realmente dinamizou a turma este ano foram as aulas de Geografia, ministradas pela diretora do Colégio Madre Tarcísia. Com a autoridade de diretora, ela tinha uma forma de dominar a turma que poucos professores possuíam. Com sua didática diferenciada ela nos levou a viajar pela América do Sul, América do Norte e Europa através de seus seminários que eram realizados por equipes compostas por nós alunos. Estas se dedicavam a pesquisa de determinados países e apresentavam aos colegas o resultado do se trabalho. Lembro-me que até os hinos dos países eram investigados e cantados. Em outra oportunidade ela programou uma disputa entre classes da 7ª série para estudar os países da península ibérica. Ficamos com a Espanha e até uma dança de castanholas foi apresentada (Kátia dançou uma dança meio flamenca e foi bastante aplaudida.). Madre Tarcísia, com sua cultura ampla, nos deu uma visão de planeta globalizado e forçou-nos a nos atualizar e contextualizar o mundo em que vivíamos. Através de debates de reportagens da TV ela mostrava que o contexto mundial não se resumia apenas aos assuntos corriqueiros daquela cidade. Toda esta forma de ensinar era bastante inovadora para a época. Isto mexeu com o imaginário de todos, pois todos sem exceção eram motivados (ou forçados) a se apresentar e dar o seu recado. Grandes lembranças! Alguns não gostavam daqueles desafios, mas o certo é que ninguém pôde ficar indiferente. Esta pode se chamada de Mestra. Foi um grande ano! 42. Apple - Abril/1976 - 1 de Abril - Steve Jobs e Steve Wozniac lançam a Apple Inc. Assim como aconteceu com a Microsoft, tudo continuou como se nada houvesse acontecido no nosso dia a dia, apenas ninguém percebia que uma revolução tecnológica estava em curso nos EUA e iria interferir fundamentalmente em nossa vida futura. Nossa geração flexível teve que absorver a evolução drástica que este fato imporia à sociedade com os Laptops, Ipods, Ipads, etc. 43. Argentina – Março/1976 - Uma Junta Militar depõe Isabelita Perón do cargo de presidente da Argentina em 24 de Março. Mais tarde, no mesmo ano, Jorge Rafael Videla ocupa o lugar de Isabelita e impõe uma das mais temíveis ditaduras da América do Sul. Este fato foi amplamente discutido em nossa sala de aula com Madre Tarcísia ao comando. Lembro, pois fui eu quem levou a descrição da reportagem do Jornal Nacional. Pobres argentinos! Pobres de toda a América do Sul que passava por ditaduras de direita naqueles tempo, inclusive nós brasileiros. 44. Montreal - Junho/1976 - Novas Olimpíadas. O destaque desta foi a Romena Nadia Comannecci que ganhou a primeira nota 10 na ginástica solo e criou um padrão de qualidade misturados a seu carisma e simpatia. Novamente o Brasil decepcionou nos Jogos com apenas 2 medalhas de bronze. Pobres brasileiros! 45.SHangai - Setembro/1976 -Morre Mao Tsé-Tung em 9 de Setembro. Foi um político, teórico, líder comunista, ditador e revolucionário chinês. Liderou a Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o país desde a sua criação em 1949 até sua morte em 1976. Sua contribuição teórica para o marxismo-leninismo, estratégias militares, e suas políticas comunistas são conhecidas coletivamente como maoísmo. Devido a implantação de sua Revolução Cultural foi responsável pela morte de mais de 50 milhoes de pessoas. Logo após sua morte a China começa a fazer uma mudança radical na sua economia, que culminou com o regime atual que incentiva o aparecimento de empresas e o capital privado. 46. Fórmula 1 - Outubro/1976 - Como eu torci no início do ano! Emerson havia tomado a decisão radical de sair da Mclaren e entrar na equipe de seu irmão Wilson Fittipaldi, uma escuderia brasileira chamada Copersucar. Logo nas primeiras corridas vimos o nosso bicampeão que sempre andava nas primeiras posições, se arrastando nas pistas. Vi que era um caso difícil e que não poderia esperar de meu ídolo mais que aquilo que ele estava dando. O Copersucar Fittipaldi deu algumas alegrias aos brasileiros: Em 1978 Emerson ficou em 2° lugar no Grande Prêmio do Brasil; em 1980 o time brasileiro ficou em 8° lugar no campeonato de construtores, à frente da Ferrari que ficou em 10°. Em outros campeonatos a escuderia deixara para trás equipes como a Mclarem e Willians. Sem apoio de patrocinadores a equipe fechou em 1982 com total descrédito da torcida. Emerson não merecia este destino na Fórmula 1, mas sonho é sonho, uns dão certo, outros não. Recomecei a torcer pelo meu ídolo na Fórmula Indy, mas isto é outra história. Neste ano de 1976 vi um dos campeonatos mais eletrizantes que se tem notícia. A disputa pelo primeiro lugar entre o austríaco Nikki Lauda e o inglês James Hunt. Estes dois eram amigos civilizados, mas não podiam entrar em seus carros de corrida que, entre si, produziam lascas para todos os lados. Neste ano a rivalidade chegou ao extremo, pois Lauda caminhava para o bicampeonato quando teve um terrível acidente na Alemanha. Foi retirado do carro em meio as chamas e entrou em processo de recuperação que deveria ser lento e gradual. Eu não gostava muito de Lauda. Reconhecia nele um piloto soberbo, capaz de ameaçar a supremacia do meu ídolo Emerson. Para a minha surpresa duas corridas depois aparece um Lauda todo enfaixado, com queimaduras aparentes que deformavam seu rosto, contrariando todas as previsões e indicações médicas. Motivado pelas vitórias de Hunt e pela rivalidade, Lauda voltou surpreendentemente ao campeonato e tirou um 4° lugar na corrida da Itália, 8° no Canadá e 3° nos Estados Unidos. Na última corrida Hunt estava a quatro pontos dele, pois havia se dado bem em quase todas as etapas que Lauda se dera mal. Chovia a cântaros no Japão e a corrida começou. Lauda deu 3 voltas na pista e parou sem motivos aparentes. Muitos pilotos abandonaram a prova no início, inclusive os dois brasileiros que a disputavam, Emerson e Carlos Pace. Hunt teve problemas, mas nas últimas voltas estava em quarto, posição que não garantiria o campeonato. Foi quando teve que parar para trocar um pneu. O chefe de sua equipe o mandou maneirar o ritmo devido ao risco da prova. Hunt se enfureceu, não obedeceu e correu como nunca naquela chuva. Ao final chegou em terceiro e garantiu o campeonato. Naquele ano ganhei mais um ídolo na fórmula 1 e ele chamava-se Nikki Lauda. Avaliei o drama em sua consciência que o fez se desapegar do campeonato e dar a chance a seu rival após todo esforço que fizera para se recuperar. Lauda já era campeão em 1975 e ganhou mais dois campeonatos após este ano, sempre com a minha torcida. Todo este drama encontra-se em um filme soberbo, chamado "RUSH - Em nome da glória", que estreou no ano de 2013. 47. Macondo, Colômbia - Dezembro/1976 - José Arcádio recebe a notícia que Fernanda iria para a capital e não estudaria na sua turma no último ano do ginásio. Ele já sabia que Aureliano e Fábio iriam seguir o rumo idêntico, agora Fernanda. José Arcádio pensou no próximo ano sem os dois. Como seria sem Fábio que fora amigo de sempre e de mães (a mãe dele era amiga de infância da sua), apesar de ter pulado uma série nunca perdera o contato com ele. Dividiam opiniões, brincadeiras e paixões platônicas (pela mesma garota). Um dos passatempos de Fábio era produzir toda uma cadeia de temores sobre a próxima série escolar que José Arcádio e sua turma ainda iriam enfrentar. Como seria sem Aureliano com sua espontaneidade e senso de humor (que às vezes até o irritava, quando pegava no seu pé. Coisas de irmãos). Como seria sem Fernanda, amiga de primeira lembrança, daquela quando se começa a achar que é gente. Amiga querida com quem dividia os estudos ( e aí nutria também uma pequena rivalidade). Como seria o ano sem o convívio e a amizade destes três. Lembrou-se quando Maurício, outro amigo de barriga, fora para longe, passando anos da infância fora. Seria aquele mesmo vazio multiplicado por três. Assim o ano de 1976, que fora um ano magnífico, se encerrava com uma notícia de ausência, ausência de pedaços dele. 48. 8ª série - Fevereiro/1977 - Este foi nosso último ano em Vitória. Foi um ano atípico parecia que a cidade queria fazer uma despedida, nos dando situações diferentes das que estávamos acostumados. Para começar Sérgio e Sandra não mais faziam parte de nossa turma. Só isto já era algo para mudar completamente nossas estruturas. O vazio deixado pro eles parecia que não seria preenchido durante o ano. A professora de Matemática mudou. Irmã Perpétua, que era conhecida por sua rigidez no trato com os alunos, foi transferida para outro colégio da instituição. Era daquelas que impunha respeito à toda a classe. Estávamos acostumados com aquela austeridade, pois sabíamos que estávamos na mão de uma mestra que faria frente a qualquer professor de Recife. Os professores que vieram substituí-la, um em sequência do outro, deixaram uma sensação de "algo faltando". A professora de Ciências começou a titubear na matéria e logo percebemos que ela ou não dominava o assunto, ou estava passando por problemas pessoais. E logo em iniciação a Física e Química, que nos seria exigido no 2º grau. Logo no início do ano nosso colega Fernando Urquiza fora atingido por um tiro em uma festa de clube. Com isto teve que abandonar o ano letivo para se tratar e fazer fisioterapia. Aquele fato abalou a todos e influenciou nas nossas relações de classe. Quanto a mim, eu me transformei também. Estava com 14 anos e os hormônios explodindo por dentro. Já achava que não havia tanta necessidade daquela dedicação toda aos estudos. Deixaria aquilo para o próximo ano. Coloquei na cabeça que deveria relaxar. Obviamente não descuidei, mas também não me entreguei aos estudos como fazia antigamente. Marcênio e Déu preencheram a lacuna que Sérgio deixara. Marcênio me puxava para Matemática, matéria em que eu era bom, mas não estava muito a fim naquele ano. Com o que estudamos deu para o gasto. Obrigávamo-nos a manter uma disciplina na natação, herança do Professor Iolanda que nos orientou por quase um ano neste esporte e nos deixou quando a frequência das aulas se resumia a mim e Marcênio. Tentávamos nadar mil metros duas ou três vezes na semana na piscina da AABB. Déu criou empatia conosco, devido a nossa convivência anterior, aos esportes e ao time que torcíamos. Ele sabia dirigir e de vez em quando passeávamos no carro do pai dele. Íamos a fábrica de pipoca da família e comíamos até nos fartar. Explorávamos locais na cidade que em todo o resto da minha vida anterior eu nunca fora. Nós três formamos um time de futebol e organizamos campeonatos com outros times de outros colégios. Eu nunca fui bom jogador, me dava melhor em judô e natação, mas para o que nos propúnhamos (diversão) dava para o gasto. A estas aventuras juntou-se também nosso temperamental amigo João da Cruz Junior. O ano foi uma grande farra com estes colegas. Ficamos desapegados das meninas da sala, também em parte por elas estranharem aqueles comportamentos e também já estarem desapegadas de nós. Acho que tinha também influência a ausência de Sandra que fazia o elo de comunicação com elas. A cidade ficara pequena de um ano para o outro e conhecemos muita gente diferente, principalmente novas meninas que não eram do Colégio, he he he! 49. Star Wars, Maio/77 – Foi lançado, a nível mundial o filme STAR WARS de George Lucas. Eu só o veria próximo ao final do ano, mas foi um filme que mudou a nossa geração. Novos parâmetros de entretenimento estavam ali na tela daquele filme. A trilha sonora, os personagens e os atores entraram em nossas vidas de forma avassaladora. Ficamos boquiabertos com aquela nova forma de se contar uma história. Eram novas tecnologias sendo apresentada em forma de fantasia. Divertimento puro misturado ao sonho de viver aquilo ali. Para quem era um bom sonhador nem precisava daquilo tudo. 50. Macondo , Maio/1977 – José Arcádio sentia que algo mudara nele e em tudo que estava ao seu redor. Com a ida de seus amigos para a capital, a classe estava mais vazia e ele teve que se virar para suprir àquelas faltas. Ainda bem que outros companheiros estavam ali presentes para não deixar o mundo perder a oscilação. Institivamente sentiu que era a hora de iniciar uma pequena reviravolta. José Arcádio sentiu vontade de mudar certas condutas. E isto não ficou despercebido, principalmente na ala feminina. Começou o ano estudando com Úrsula e outra amiga chamada Remédios, nas festas do Carnaval admirara a amiga em cima do carro alegórico. Dissera a ela que a achara lindíssima. Infelizmente sentiu uma reação bem contida ao seu elogio. Então, com o passar do tempo, a cidade começou a girar e o Mundo também, José Arcádio continuou com suas mudanças internas, mas em breve ele e Úrsula se envolveram em uma pequena discussão devido a alguma falha que ele cometera. Isto deixou a garota com raiva. Ele não entendeu por que tanta comoção, já que antes haviam discutido mais acaloradamente e sem tanta repercussão. Em breve Remédios também estava chateada e depois várias outras deixaram de falar com ele. José Arcádio fez uma estimativa que indicava que mais da metade das meninas estavam chateadas. Ele não sabia o motivo e não entendera o porquê de todo aquele ressentimento. Como ainda continuava tolo este José Arcádio. O Carnaval de Macondo era parecido com o de outras cidades do Brasil. Possuía carros alegóricos, troças, bandas, muita animação e mela-mela. Tudo para que se possa duvidar onde teria realmente acontecido estes fatos. 51. Elvis – Agosto/1977 – Em 16 de Agosto morre o ícone da cultura popular Elvis Presley. Ele influenciou muitos artistas do Rock e do Pop da época (inclusive a maioria dos meus artistas prediletos, como Jimmy Page do Led Zeppelin). Sua trajetória foi emblemática, criou um padrão de apresentação que poucos conseguiram e provocou muitos rancores nos artistas mais famosos de então. Era chamado de "Elvis The Pelvis" pela sua forma insinuante de dançar, que enlouqueceu a mulherada e provocou revolta nos pais delas e nas Igrejas. Elvis era uma força da natureza, além de bonitão era carismático e possuía um timbre de voz que poucos cantores na história conseguiram. Suas músicas são cultuadas até hoje e seus filmes ainda passam nas TVs pagas. A partir da década de 70, Elvis entrou em um processo conturbado devido a disputa pela popularidade com os Beatles e também com outros motivos particulares. Tudo isto o levou a intensificar o uso das drogas e bebidas. Engordou muito e nos últimos shows já era uma sombra do que fora no auge da carreira. Lembro-me muito bem de todo o impacto da sua morte. Logo surgiram legiões de viúvas (inclusive minha prima que eu nunca a vira ouvindo uma música sequer dele). Elas choravam copiosamente na televisão, nos jornais, nas praças e em muitos lugares (inclusive em Vitória de Santo Antão). Lembro dos programas especiais que as redes de televisão fizeram por motivo de sua morte e nas cerimônias fúnebres. Todos eles sempre terminavam com o carro chefe de sua carreira, a lacrimosa "Love me tender". 52. Charles Chaplin - Dezembro/1977- Outro que se foi neste ano e deixou uma tremenda saudade. Hoje seus filmes são cultuados como obras primas de um gênio da arte de fazer cinema. Conheci seus filmes logo cedo devido a fascinação que meu pai nutria por Chaplin. Talvez antes de sua morte eu tenha visto metade de seus filmes. Admirava aqueles filmes rústicos que mostravam situações tão absurdas que era incrível como se conseguia sequências como aquelas naqueles tempos. Mas o mais sensacional era a própria figura do vagabundo que se multifacetava em diversos personagens, mas continuava sempre vagabundo. Foi outra perda que senti bastante. 53. Macondo - Dezembro/1977 - Chega o fim do ano letivo para José Arcádio e seus colegas. Após a entrega dos resultados em um dia de Dezembro, José Arcádio sai de sua sala e começa a se despedir do lugar onde fora tão feliz. O Colégio N. S. do Desterro ficaria para sempre entranhado em sua vida daí pra frente. Ele sairia do real no seu dia a dia para ocupar um espaço incomensurável no seu coração. Fez um percurso que abrangia todas as salas que ele ocupara naqueles anos. Não sentia vontade de chorar, mas sabia que aquela fase que terminara em sua vida nunca mais voltaria e jamais seria substituída por outra. Agora não eram apenas dois colegas que faltariam, mas uma classe inteira. Como lidar com esta perda? Só com a esperança de dias futuros melhores. Só com a emoção que um futuro promissor, que o aguardava ali na esquina, podia oferecer. Só a garra de conquistar este futuro poderia dar alívio aos sentimentos da infância que estavam ali naquele colégio, naquele bairro, naquela cidade. Com estes pensamentos ia retornado, pela última vez, a sua sala. Antes de entrar uma mão pegou em seu braço. Era Rebeca, que estava tão emocionada quanto ele. Não trocaram palavras, apenas se deram as mãos. 54. Atemporal – Pegando um gancho na lista que Sérgio Bessa deu em seu texto, reproduzido acima, digo também que Vitória também foi: A praça da Matriz - que desde criança a frequentamos com seu espaços para correr, seus jardins, bancos, coreto, bares e Igrejas. É um espaço fundamental para todas as gerações que passaram pela cidade e que às vezes encontra-se tão depauperada que chega a fazer quem ama esta cidade se revoltar com o descaso. A Rua Antão Borges Alves - A chamada "rua de baixo" para quem morava na "rua de cima" ou rua Dr. João Moura. Ra uma rua larga, cujos atrativos consistia na moradia de boa parte dos amigos e amigas. Então era a rua do frisson. Para ela convergiam os encontros noturnos, o futebol, as paqueras e até mesmo o Judô transferiu-se para ela. Boa parte do barulho concentrava-se ali - Festas, estudos, aulas de violão, encontros jovens, etc. Foi um local onde quase tudo acontecia. Judô - Este ambiente não podia faltar. Desde nossa idade mais tenra que entramos no judô, capitaneado pelo Professor Arruda. Um espaço onde antes de aprendermos a nos defender, aprendíamos brincadeiras que só ali podíamos realizar. Antes de nos exercitar fisicamente, exercitávamos o controle emocional e, por que não dizer, a cidadania que devíamos ter quando crianças e adolescentes. Antes de competir uns com os outros experimentávamos a convivência com todos, quer de nossa idade, quer os mais velhos, quer os mais novos. Antes de vencermos um ao outro, sabíamos que daquele local as rivalidades não podiam prosperar e sair para as ruas, pois ali era o local para que viessem à tona de forma assistida e controlada. Antes de nos superarmos para conseguir nossos objetivos, sabíamos que ali era também um espaço de educação e estávamos aprendendo também a ser cidadãos sob a batuta enérgica do Professor Arruda. Sabíamos que aos vencedores seriam atribuídas as medalhas e aos outros seriam mostradas a forma e a motivação para se conseguir o troféu na próxima competição. Não foi a toa que a seção de Vitória de Santo Antão da Associação Nagai foi uma das mais vitoriosas, rivalizando com as instituições mais eficientes de Recife no esporte. Também era um local que atraia as meninas e isto motivava mais ainda a quem praticava, he he he! (Dei-me muito mal quando estava tentando me mostrar para certa garota. Professor Arruda me catou para uma luta. Passei a maior parte do tempo no ar e no chão. Foi uma tremenda sova. Depois Arruda me mandou pra casa com o moral baixo. Ainda bem que a garota gostou de me ver voando pra lá e pra cá e veio conversar, elevando o que estava baixo – o moral é claro!). AABB – Este local faz sucesso em cada cidade que se instala. Não seria diferente em Vitória e não passaria em branco à nossa geração. Tinha a piscina de 25 metros na qual aprendi a virar peixe, tinha o campo que jogávamos e realizávamos campeonatos. Havia os jogos como Totó e Sinuca e ainda havia um pequeno parque, onde volta e meia estávamos em cima dos brinquedos a... digamos filosofar. Houve o auge para a nossa geração, aonde íamos e nos encontrávamos com todos. Como houve o declínio quando apenas íamos eu e Marcênio para nadar nossos mil metros diários, herança do Professor Iolanda. As instalações da AABB não são as mesmas de hoje, mas não posso dissociar nunca nossa geração daquele antigo espaço lúdico que passávamos tardes agradáveis esperando nossas amigas para vê-las de biquíni. Cedro – Como Sérgio Bessa falou é um dos lugares emblemáticos para nós dois. Para ele porque morava lá e para mim porque ia visitar a ele e a Sandra Wanderley que era sua vizinha. Era uma estação experimental do Instituto de Pesquisas Agropecuárias –IPA, localizada em uma espécie de fazenda, onde eram realizadas diversas pesquisas na área agropecuária. Então se explica o interesse comum entre nossos pais, todos Agrônomos, colegas e amigos. Era um lugar paradisíaco cheio de verde e locais para se perder e explorar. Havia cocheiras e quintais comuns às casas dos Agrônomos residentes. Havia uma vila dos moradores que estavam lotados no IPA auxiliando àquelas pesquisas. Havia uma escola e nela um pequeno campo onde jogávamos e eu exercitava meu mau futebol. Havia também uma espécie de Laboratório, onde as experiências eram realizadas, local que só fui algumas vezes acompanhado de meu pai. O Cedro era sinônimo de vida livre na natureza. Acho que meus amigos sentiram uma grande diferença quando precisaram sair daquele lugar fantástico. DPV – Era uma área na frente do Hospital João Murilo, onde hoje está instalada a CEASA de Vitória. O Departamento de Produção Vegetal é um local que me lembro com muita emoção, pois era o local de trabalho do meu pai. A área era composta por dois prédios, oficinas e a casa do veterinário chefe. Desde que nasci frequentava aquele lugar, meu pai se tornou o responsável pela a área e suas funções, que era a produção e venda de mudas das diversas espécies de cultivares da região. Por isto ele trabalhava integrado com o os pais de Sérgio e Sandra. No DPV morava o veterinário Arivonaldo Torres, grande amigo de meu pai e pai de Luiz Gustavo, colega de meu irmão. Neste espaço aprendi a andar de bicicleta, a soltar fogos, etc. Mas o que Sérgio se referiu e o que foi uma guinada para nós, foi quando, em 1974, meu pai desocupou uma área de estacionamento de máquinas e colocou duas traves. Acho que todos os amigos e colegas foram para lá jogar. Dói muito ver como está diferente o lugar, mas fazer o que? Carnaval – O carnaval de Vitória era um dos melhores do estado. A cidade cultivou a tradição de blocos com carros-alegóricos. Os clubes tinham nomes peculiares, os noturnos eram três: o Clube abanadores "o Leão", o Clube Vassouras "o Camelo e o Cisne, Clube dos Motoristas. Pela manhã saiam mais outros tantos que posso me lembrar: Cebola Quente, a Girafa e o mais novo foi um clube que meu Tio Gilvan foi um dos artífices. Chamava-se a Praça. Para meu universo de guri e para uma cidade do interior do estado, aquilo era nada diferente do extraordinário. A cada ano estas alegorias se tornavam mais fantásticas. Eram escolhidos temas e estes eram trabalhados e montados em um carro que tinha uns 20m de tamanho por uns 4m de largura. Neste espaço a mente do artista projetista se espalhava e as alegorias se erguiam fazendo sucesso perante a população. Nelas iam moças da sociedade fantasiadas de acordo com a história idealizada. Assim começamos a ver nossas colegas integrando o tema destas alegorias. Havia sempre um carro de som que explicava todo o enredo repetidas vezes, dando o nome de todos os envolvidos. Cada ano a população escolhia um melhor e isto nunca chegava realmente a um consenso. Atrás da alegoria vinha uma banda de frevo e o folião escolhia seu clube e pulava de graça em um carnaval mais do que participativo. Posso ouvir ainda o locutor do carro de propaganda a anunciar a atração que estava por vir, criando um suspense por todo o trajeto por onde ele passava. Pela manhã eu fazia meu carnaval. Eu junto com meu irmão, João Batista, Carlos Henrique, Pepe, primos e quem mais quisesse ir nos atirávamos na atividade mais prazerosa para nós na época. Cada um tinha suas bombas feitas com canos de PVC, vara de madeira e borracha para atirar água nos automóveis e nos foliões. Era só festa! O corso rolava a manhã toda e parte da tarde. Cada agremiação destas citadas, mantinham seus bailes noturnos, para uma folia mais seletiva. Tive muitos carnavais obviamente, mas aqueles de minha infância em Vitória estão entre os melhores. São João – Tanto quanto o Carnaval, as festas juninas eram um período muito ansiado por mim durante todo o ano. Minha família era uma entusiasta da festa, principalmente meu pai que se preparava antecipadamente plantando milho para ser vendido e consumido. Minha mãe dava sua exaustiva contribuição fazendo aquelas delícias juninas, como pamonha (sem dúvida a melhor que já comi), a canjica, pé de moleque, bolos de milho, Souza Leão e Pé de moleque. Organizava as festas que enchiam a casa de parentes e amigos. Novamente meu pai entrava em ação, pois diferente de muitos outros ele vibrava com os fogos e as fogueiras, tratando de confeccionar uma na frente de casa durante as vésperas dos três dias dos santos. Mas a sua maior contribuição para o nosso São João era a compra de fogos. Ele comprava para nós e para ele também. Para nós as tradicionais bombinhas aliadas, cobrinhas, os traques maiores, rodinhas e mais alguns que me fogem a memória. O São João pegava fogo mesmo com os fogos que ele comprava para ele mesmo soltar. Eram belos vulcões que soltavam tiros coloridos e suas chamas subiam pelo menos uns 4 metros, comprava também uns tiros que subiam e estouravam 3 vezes no Céu. Comprava uns busca-pés que ele lançava bem longe de nós e assim transformava o nosso São João em um evento inesquecível, até chegar o clímax da festa. Ele adorava balões, claro que nas décadas de 60 e 70 não havia esta consciência dos perigos destes artefatos juninos que tanto nos encantavam. Meu pai soltava balões tão grandes que tinha que subir no muro da nossa casa, com 2 metros de altura. Ele com 1,70 metros tinha que esticar o braço para cima para levantar toda aquela estrutura do chão. Primeiro ele, os amigos e vizinhos abanavam aquela armação para inflá-la. Depois acendiam o pavio e continuavam abanando até que o balão se enchia com ar quente e ficava querendo voar. Nesta altura a rua já estava cheia da meninada da vizinhança. Havia um barbante amarrado na boca onde em sua ponta era atada uma série de estrelinhas que eram acesas quando estava na hora de liberar o balão. Nesta hora meu pai dava um impulso na ponta e alguém empurrava a boca para cima. E o Balão subia no Céu vitoriense em direção às estrelas com os fogos acesos na extremidade inferior, funcionando como uma calda. Esta visão emocionava a todos que estavam acompanhando aquela grande operação. Era uma festa que nos transformava e nos enchia de alegria, com a trilha sonora de muito Forró pé-de-serra, deixando lembranças fortes em nossos cinco sentidos infantis. Festas de final de ano – Era o momento em que já estávamos de férias. A cidade se acalmava e tudo se enfeitava para o Natal. Os Presépios eram montados e as árvores de Natal começavam a brilhar dentro dos lares. A cidade se iluminava e a festa na Praça da Matriz era instalada. O comércio entrava no clima e todas as lojas se enfeitavam e colocavam músicas natalinas para comemorar a data e chamar a freguesia. Lembro-me dos enfeites das árvores de natal que eram tão frágeis que qualquer manuseio os quebrava. Na véspera nos preparávamos e íamos para a casa da minha avó Davina na Rua do Meio. Lá já estavam as minhas primas e primos e todos faziam a grande ceia. Antes aproveitávamos a festa da Praça, com seus brinquedos e guloseimas. No dia seguinte estávamos mostrando nossos presentes a todos e o Natal continuava. O grande atrativo era o clima natalino em uma cidade de interior que fazia desta época uma época tão especial. Uma semana depois era a vez das comemorações do final do ano e novamente todos se reuniam na Rua do Meio. Na hora da passagem o último minuto do ano era passado todo no escuro, pois a Prefeitura mandava desligar as luzes da cidade. Realmente sentíamos pelo rimbombar dos fogos, que o ano estava a passar na cidade escura. E quando as luzes se acendiam era como se a vida recomeçasse com novas esperanças e perspectivas. Naquela época eu não queria passar aquele momento em lugar nenhum que não fosse ali, na casa dos meus avôs na Rua do Meio em Vitória de Santo Antão. 55. Vitória - Dezembro/1977 - Chegou o último dia nesta cidade enternecida. Parti primeiro que meus familiares, pois iria iniciar um curso de Matemática promovido pelo Colégio Salesiano em Recife, que tinha o intuito de nivelar os novos alunos. Não vi minha casa bagunçada para a mudança, então a imagem que carrego é dela como sempre meus pais a conservaram. O ato de escovar os dentes naquele dia já me fez imaginar que era a última vez que eu o faria ali naquela casa querida. Sai do banheiro e um raio de sol atravessava o vidro da porta do corredor e batia nas paredes amarelas, dando esta cor às minhas últimas luminosas lembranças daqueles espaços. Tinha uma sensação que me despedia não de uma casa, mas de um ser vivo, uma entidade, embora soubesse que tudo ali iria comigo para o Recife. Os móveis iriam fisicamente. A garagem, o quintal, meu quarto, o jardim iriam no espaço bem amplo reservado no meu coração. O imenso espaço que coloquei a cidade e todas as suas lembranças. Atualmente resta muito pouco da parte física de minha casa. Alguns pratos, copos, talheres, fotografias, alguns objetos de decoração, tudo guardado na casa da minha mãe. Posso vê-los em jantares onde ainda teimam em aparecer. Mas aquilo que guardei em meu coração está intacto e pulsando. De vez em quando aparecem na minha frente, com toda a carga de emoções que deles demanda, chamando por amigos, primos, avos, pai e todos os que estão presentes neste universo vivo de lembranças. Como agora, quando me dominaram totalmente ao escrever este texto. Não vejo como fazer um balanço pessimista de uma vida que teve um início como este. Acho que realmente levamos vantagens perante os colegas e amigos que fizemos em Recife, pois estes têm a infância como apenas uma continuidade de suas vidas. Não a veem como um período mágico como o nosso, simples assim. Pautei o direcionamento da minha vida diferente daquilo que ouvia e mais em cima do que acreditava. Nunca busquei ficar rico (fui até displicente nisto), fui atrás de uma profissão que amava e que me realizou plenamente. Esta realização não veio de forma simples, como nada vem na vida. Tive que aceitar muitos desafios quase que imponderáveis e que outros regatearam. Acho que nunca vou estar plenamente seguro na engenharia, pois diariamente ela impõe novas situações limites, por mais preparado que se esteja. Talvez isto seja o grande atrativo que me puxa para ela e me segura, impedindo que arranje um cargo burocrático menos extenuante e com mais qualidade de vida. Talvez a leve comigo até o fim, pois essa foi a sina de quase todos os irrequietos que ingressaram nesta profissão, incluindo meus dois tios que não a abandonaram um só dia até nos deixarem. Ou quem sabe ganhe na Mega Sena e esqueça isto tudo, he he he! Mantenho um casamento com muito amor e bom humor e claro, altos e baixos como todas as uniões. Minha esposa me aceita maaais ou meeenos do jeito que sou e aceita as agruras que a minha profissão impõe. Só isto já dá um handicap para que ela seja quase canonizada em vida. Ficam faltando os milagres, mas acredito que ela ainda chega lá. Temos um filho que também é uma força da natureza e me faz rever constantemente minhas razões e ponderações, fazendo-me ora mais razoável, ora mais impositivo, dependendo da situação. Às vezes acho que estou lidando com um espelho, e às vezes com um estranho, o que não deixa de ser interessante. Vivo hoje afogado em livros, pois este é o meu passatempo predileto. O segundo é o que estou fazendo agora, quando sujo este papel, ou a sua tela de computador com estas palavras. Estou me obrigando a ter outros mais, como correr pela manhã. Espero chegar a correr os 5km diários que prometi ao meu cardiologista. Até agora ainda não passei dos 2km, os outros três faço andando. Decidi enfrentar este texto quando, na festa de Sandra, senti o elo que unia aquelas pessoas que viveram aquele tempo. Fui abraçado e beijado por Sérgio, Sandra e Carlos Henrique e senti a emoção de cada um deles expressada nas palavras de Sandra: “As esposas têm que entender...” É claro que têm que entender, cara amiga e entenderam não se preocupe. Este texto vai como um presente. Um presente aos amigos e contemporâneos que me ajudaram a ter tantas e belas lembranças. Sei que presente se dá esperando que as pessoas gostem, mas pode acontecer o contrario. Reconheço que deixei escapar muitos fatos e pessoas que deveriam estar aqui. Mesmo assim valeu o esforço. A diversão foi muito boa. Fernando Melo, 16 de Março